quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NÃO É PROVOCAÇÃO!

Thiago Escudeiro enviou-me um e-mail indicando matéria que saiu na Folha de S. Paulo com o título: Surras diminuem o Q.I. de crianças. No estudo Straus, sociólogo da Universidade de New Hampshire, especialista na questão da violência contra a criança afirma que pediatras e psicólogos precisam dizer aos pais para que não batam, sob qualquer circunstância. É interessante também na matéria que a tecnologia tem sido importante aliado para o combate da violência doméstica contra a criança. Leia no artigo a respeito do uso de tomografias do cérebro de crianças submetidas a surras, comparadas com outras crianças. Quanto mais nova é a criança maior é o risco de dano.

Você pode achar esse assunto apenas uma provocação. Mas pense. O mundo que vivemos é de uma complexidade fenomenal. E as crianças precisam estar preparadas para a compreensão, a manipulação desse mundo em seu desenvolvimento integral. Como disse acima, a tecnologia cresce. Contudo a miséria não diminui. São os dilemas de nossa sociedade. E, são grandes. Da mesma maneira, o aumento da cultura não tem significado a diminuição da violência. Sabe o que vejo?

Vejo diferença nas percepções. Ao olhar para uma mesa, alguém a vê; outra pessoa pode dizer que vê uma madeira em forma de mesa.

Vejo o homem se apoderando da criação e sujeitando-a como homo faber, isto é, homem que fabrica. Cria, embeleza, para o conforto seu, mas também do outro e do nós (da sociedade). Fábrica não é só beleza. Mas, também sofrimento. Lá na fábrica, há pessoas rodeadas de ferramentas. As máquinas na fábrica ocupam o centro das atenções, as pessoas são periféricas; giram e sobrevivem em torno da máquina. Esta, dura. As pessoas envelhecem. As pessoas passam, as máquinas ficam. As máquinas têm braços (alavancas) e dentes afiados (facas de corte), parecem ser humanos, mas não são.

Vejo mães mandando seus filhos não para a escola, mas para a fábrica a fim de aprenderem a lidar com as máquinas. As escolas já não existem. Foram substituídas pelas fábricas. O mundo das coisas passou. O que vale agora é a não-coisa: a informação, a memória do computador e os serviços.

Vejo o homem adoecendo. Não manipula mais o ambiente, mas o controle remoto e as informações. É sedentário, triste. A mais valia, não é mais a mão de obra dele, mas dela, da máquina.

Assim, as crianças precisam crescer num ambiente o mais saudável possível, para descobrirem no futuro, o que fazer com o lixo eletrônico e, se preciso for, salvar a humanidade em caso de uma explosão no espaço virtual. Elas são o hoje na manipulação das não-coisas. Que elas consigam como efeito colateral mais felicidade, do que nós.

É isso!
Paulo Alexandre
-x-x-x-

Inspiração: O mundo codificado, Vilém Flusser. Organização Rafael Cardoso, São Paulo, Editora: Cosac Naify, 2007. E em http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u629126.shtml, acessado 29/09/2009.

Um comentário:

  1. Grande mestre! Sábias palavras e que tenho certeza que se cada um de nós repassar a 2 ou 3 pessoas (com o devido preparo na interpretação textual e extração de significado), seria no mínimo interessante em resultados - vejo sua percepção bem aguçada e ao mesmo tempo levemente pessimistas.

    Não é que eu ache que o mundo deve acabar em 2012 (ele ainda não acabou?), mas vejo uma certa evolução no que diz respeito ao bem estar: as pessoas estão se cuidando mais, por se informarem mais - mas também concordo que não conheço tão bem as classes D e E para negar tudo que fora dito.

    No mais, aprecio sempre que posso seu blog com excelentes "surtos", sempre que possível vou recomendar algo caso seja de suma importância.

    Um grande abraço!

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