quarta-feira, 2 de setembro de 2009

FILHOS DO DIVÓRIO

Diga-me: Você é filho do divórcio?

Hoje, creio, não é tão ofensivo fazer essa pergunta. Talvez seja ofensivo, para a maioria, perguntar se uma pessoa é filha adotiva. Mas, creio que em breve esse preconceito será superado, pois há uma beleza na relação de pais e filhos do coração que o vínculo sanguíneo não pode explicar.

Bem, meu assunto é sobre os filhos do divórcio.

Lendo uma pesquisa sobre a percepção do divórcio, entre jovens adultos (idade entre 20-25) que sofreram na infância a dor da separação dos pais, aprendi que existem três perfis de enfrentamento dessa dor: resilientes, sobreviventes e vulneráveis.

Os vulneráveis interpretam o divórcio dos pais como um evento doloroso que afetou negativamente a vida toda deles.

Os sobreviventes interpretam o divórcio parental como algo complexo de ajustamento importante.

Os resilientes interpretam o divórcio como uma passagem significativa em que os pais contribuíram para o desenvolvimento e formação de sua identidade.

Nem precisa dizer que a resiliência é uma importante capacidade de sofrer o impacto e retornar ao estado anterior o mais rápido possível.

Que o divórcio requer ajuste da vida pessoal, social e financeira a curto e longo prazo não se tem dúvida.

Que ele também é estressante e pode ser uma fonte de eliciamento de outros eventos estressores e que, por isso, requer adaptação das crianças e adolescentes não há dúvida.

Entretanto, há sempre a possibilidade de superação e adaptação positiva. Assim, as conceituações de divórcio só em termos negativos que implicam em danos e prejuízos precisam de reformulações.

Outrossim, tais concepções podem bloquear o reconhecimento de mecanismo de enfrentamento e as capacidades de acompanhamento na transição de uma família intacta para uma família binuclear saudável.

No meu livro: “Família uma gostosura” conto a história de uma família de sabiás que enfrenta o estresse do cotidiano; ela descompensa-se temporariamente diante de um estímulo aversivo, mas, ao enfrentá-lo, em busca de soluções, recompõe-se rapidamente, alcançando uma adaptação positiva. Ressalto a importância do conceito de resiliência[1] na família para um processo de crescimento e fortalecimento das relações interpessoais, no enfrentamento dos fatores de risco ou de situações de acentuado desconforto.

A pesquisa dos filhos do divórcio apontou, ainda, que a qualidade de vida deles caiu na década de 90 comparada com a década de 80. Uma das razões é que as separações atuais ocorrem em casamentos de baixo conflito, o que é menos aceito por crianças e mais estressantes para elas.

É isso!Paulo Alexandre
[1] A capacidade de recuperação diante da adversidade.
Divorce is a part of my life… Resilience, Survival, and Vulnerability: Young Adults' Perception of the Implications of Parental Divorce. Journal of Marital and Family Therapy. volume 35, Issue 1, Pages 30-46Published Online: 29 Dec 2008http://www3.interscience.wiley.com/cgi-bin/fulltext/121589512/HTMLSTART?CRETRY=1&SRETRY=0. Acessado em 01/09/2009.

2 comentários:

  1. Caríssimo Pastor, Psicólogo e Amigo Paulo Alexandre,
    Gostei muito deste seu artigo e do site, em geral, mas quero visitá-lo com mais tempo e atenção, para aproveitar melhor... Parabéns!!!
    Aproveitando o ensejo, meu irmão, Eduardo Oscar, está lançando, no Facebook, uma causa: "Alienação Parental: Vamos Combatê-la." que, talvez, possa interessar ao senhor. Ele postou também um texto, em seu blog, no endereço: http://tinyurl.com/mlnesf , que acredito, também seja de seu interesse. Além disso, há uma infinidade de outros textos, sobre vários assuntos, também muito interessantes, na minha modesta opinião... Vale a pena visitar...
    http://ec.spaces.live.co
    Um grande abraço,
    flavio.chaves@uol.com.br

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  2. É cada vez mais comum, nos dias de hoje, encontrarmos 'filhos do divórcio' ajustados e/ou adaptados, mas muito menos lares 'binucleares'harmonicos. O que vemos com maior frequência, são famílias comandadas pelas mães.
    A figura paterna cada vez mais figurativa, consta do registro civil, porém a presença muito menos forte, até pela formação de novas famílias ou posições mais comodistas e consequentemente mais confortáveis, mas não menos estressantes e dolorosas, na maioria das vezes, para ambas as partes, ainda que nem sempre reconhecidas. É lamentável como a lealdade familiar se perde no processo de separação.

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