sexta-feira, 4 de setembro de 2009

NOVA PATERNIDADE

O post “filhos do divórcio” instigou-me a esta postagem.

Quero dizer que ser pai não é fácil. Fomos impedidos na infância de brincar de casinha trocando fralda das bonecas. O que fazíamos era estragar a brincadeira das meninas, pegando as bonecas e dando um fim nelas. Como se tivéssemos medo de que algo de errado ocorresse conosco, pois menino que brinca com boneca acaba gostando. E assim, crescemos e não sabemos muito sobre cuidar de filhos: trocar fraldas, dar banho, arrumar a casa. Simplesmente não aprendemos na infância o que nos tornaria um pai mais sensível. E sem querer reclamar, mas reclamando, digo: foram as mulheres que nos impediram também de brincar de casinha e fazer os serviços domésticos.

Quero dizer que as coisas estão mudando. Mudança é um processo lento.

Antes, os pais eram pegos de surpresa no dia do nascimento dos filhos e ensaiavam uma única fala: Olá meu filho sou seu pai!

Hoje, os pais podem acompanhar a gravidez da companheira. Podem passar a mão na barriga da grávida, falar com a barriga, pôr uma música para que a barriga ouça.

Mas mesmo assim, o pai continua do lado de fora do ventre materno. A mãe é protagonista de uma gestação e não de uma concepção compartilhada (Arilha, 1998:73). Por mais que o pai acompanhe a gestação do filho ele não participa da relação simbiótica da díade (mãe-filho) durante a gestação, ele é o terceiro excluído. Isto é, ele é o cara que espera do lado de fora.

Ainda assim, somos necessários, pois pai é a arte de ser desnecessário. Aberastury (1991) afirma que a figura paterna adquire contorno em dois momentos do desenvolvimento do filho. O primeiro entre seis e doze meses de idade (organização genital precoce) e o segundo na entrada da adolescência (definição de papel na procriação). Assim, a figura paterna tem função estruturante do desenvolvimento do ego da criança. À medida que a criança se desenvolve a figura paterna ganha relevo na inserção social do filho/a e a conseqüente ruptura da díade (mãe-filho).

Reconheço que tornar-se pai é um processo. Sei que você já ouviu falar do mito do amor materno[1]. Mas, já ouviu falar de mito do amor paterno? Eu ainda não ouvi! Tenho ouvido que mãe é uma só! O que implica em diferentes paternidades e ausência da figura masculina. Tenho ouvido que os homens brigam apenas na separação pela guarda do filho, mas depois somem. Esquecem de pagar a pensão, esquecem que o que não deu certo foi a relação conjugal e não a relação entre pais e filhos. Alguém pode ser uma porcaria de marido, mas não precisa ser um péssimo pai. São papéis diferentes. Ouço também que a comemoração do dia dos pais em algumas escolas é problema.

Entretanto, acredito em mudanças. Os homens estão aprendendo a ser pai. O acelerado processo de mudanças socioculturais com o expressivo ingresso da mulher no mercado de trabalho tem dado outros significados à paternidade.
Ser pai não é mais ser único mantenedor e nem reprodutor, ele pode expressar sentimentos, cuidar dos filhos com contato físico e dividir as tarefas domésticas. Há lugares em que ele escolhe tirar a licença paternidade para ficar cuidando da criança. O homem está aprendendo a exercer a paternidade na sua multiplicidade de formas.

No meu livro “Pode a criança crescer sem apanhar?” Júnior vive com o pai, a mãe mora com o marido dela em outra casa. E ambos exercem o papel parental de forma adequada. Júnior de uma família binuclear nunca apanhou do pai, e auxilia o amigo que vive com a mãe e o pai juntos, mas que sofre punição física em casa. Faço questão de mostrar que uma família binuclear pode ser saudável.

É como escreveu em meu blog o Eduardo Chaves, irmão do Flávio e filho do reverendo Oscar Chaves: “Gostei de seu artigo – especialmente porque não defende a tese de que o divórcio de um casal que tem filhos é sempre ruim para os filhos. Não nego que possa ser (...) Mas seu artigo mostrou, num tom positivo, que divórcios podem ser, não só para enriquecimento para eles.”
Aproveito o ensejo para dizer que o Eduardo está combatendo as conseqüências do fenômeno “Alienação Parental”. Confira no HTTP//ec.spaces.live.com

É isso.
Paulo Alexandre.
[1] Badinter/1985.

Um comentário:

  1. Manifestei-me no artigo que deu origem a este, e gostaria portanto, de me manifestar quanto ao ponto ressaltado aqui.
    Afinal, a Cesar o que é de Cesar, ao Pai o que é do Pai.
    Conheço alguns casos, um vivido na família de meu ex marido, onde no momento da separação, o Pai assumiu a convivência com o(s) filho(s). Neste caso tão proximo, por exemplo, a mãe não apresentava nem disponibilidade nem vocação para a maternidade, foi digamos assim, somente a 'parideira', gerando na criança, durante o convívio, fortes reflexos desse perfil, inclusive de ordem psicológica. ESte pai, assim como outros a que me referi, assumiram BRILHANTEMENTE o papel de genitores e administradores da família, onde distribuíram generosamente a educação, o carinho,o amor, a orientação, o acolhimento,e tudo o mais abundantemente, enquanto - e aí voltando àquela mãe tão proxima - ela distribuía visitas periódicas parcamente, presentinhos, e vez ou outra alguns finais de semana pouco apreciados pelo filho.
    Acho que algumas famílias deixavam os meninos brincarem de casinha, ou estes bricaram sem se preocuparem com os resultados tão temidos àquela época... mas, a verdade, é que se existem os faltantes, Graças a Deus, existem os opostos também, generosos e conscientes. Parabéns a todos eles. Um abraço,

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