Thiago Escudeiro enviou-me um e-mail indicando matéria que saiu na Folha de S. Paulo com o título: Surras diminuem o Q.I. de crianças. No estudo Straus, sociólogo da Universidade de New Hampshire, especialista na questão da violência contra a criança afirma que pediatras e psicólogos precisam dizer aos pais para que não batam, sob qualquer circunstância. É interessante também na matéria que a tecnologia tem sido importante aliado para o combate da violência doméstica contra a criança. Leia no artigo a respeito do uso de tomografias do cérebro de crianças submetidas a surras, comparadas com outras crianças. Quanto mais nova é a criança maior é o risco de dano.
Você pode achar esse assunto apenas uma provocação. Mas pense. O mundo que vivemos é de uma complexidade fenomenal. E as crianças precisam estar preparadas para a compreensão, a manipulação desse mundo em seu desenvolvimento integral. Como disse acima, a tecnologia cresce. Contudo a miséria não diminui. São os dilemas de nossa sociedade. E, são grandes. Da mesma maneira, o aumento da cultura não tem significado a diminuição da violência. Sabe o que vejo?
Vejo diferença nas percepções. Ao olhar para uma mesa, alguém a vê; outra pessoa pode dizer que vê uma madeira em forma de mesa.
Vejo o homem se apoderando da criação e sujeitando-a como homo faber, isto é, homem que fabrica. Cria, embeleza, para o conforto seu, mas também do outro e do nós (da sociedade). Fábrica não é só beleza. Mas, também sofrimento. Lá na fábrica, há pessoas rodeadas de ferramentas. As máquinas na fábrica ocupam o centro das atenções, as pessoas são periféricas; giram e sobrevivem em torno da máquina. Esta, dura. As pessoas envelhecem. As pessoas passam, as máquinas ficam. As máquinas têm braços (alavancas) e dentes afiados (facas de corte), parecem ser humanos, mas não são.
Vejo mães mandando seus filhos não para a escola, mas para a fábrica a fim de aprenderem a lidar com as máquinas. As escolas já não existem. Foram substituídas pelas fábricas. O mundo das coisas passou. O que vale agora é a não-coisa: a informação, a memória do computador e os serviços.
Vejo o homem adoecendo. Não manipula mais o ambiente, mas o controle remoto e as informações. É sedentário, triste. A mais valia, não é mais a mão de obra dele, mas dela, da máquina.
Assim, as crianças precisam crescer num ambiente o mais saudável possível, para descobrirem no futuro, o que fazer com o lixo eletrônico e, se preciso for, salvar a humanidade em caso de uma explosão no espaço virtual. Elas são o hoje na manipulação das não-coisas. Que elas consigam como efeito colateral mais felicidade, do que nós.
É isso!
Paulo Alexandre
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Inspiração: O mundo codificado, Vilém Flusser. Organização Rafael Cardoso, São Paulo, Editora: Cosac Naify, 2007. E em http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u629126.shtml, acessado 29/09/2009.