segunda-feira, 3 de agosto de 2009

AS COISAS NÃO SE EQUILIBRAM NUM PASSE DE MÁGICA.

Eu vivi muitos dias com medo de um ataque de pânico. E quem viveu o medo, o pavor de sintomas incômodos não é mais um ser humano normal. Quem passou pelo campo de concentração jamais esquecerá o horror, o cheiro de morte e a perda de controle. Viver o que a vida espera de uma pessoa é muitas vezes se entregar ao seu destino de maneira completa e digna. Viver fora dos limites do campo de concentração exige uma re-aprendizagem. Eu teria de aprender a viver sem o medo de um ataque de pânico. Horas e horas da minha vida foram consumidas por sintomas e pensamentos recorrentes de medo de que os sintomas de pânico aparecessem novamente.
A pessoa que vivenciou sintomas apavorantes como os de pânico precisa saber que não é mais vítima, mas escolhe a reação singular. Não importa o que os sintomas exijam dela, importa sim, a reação única que só ela pode esboçar. É a liberdade que a pessoa tem para decidir como vai reagir ao que os sintomas lhe fazem. Ela já sabe que controlar sintomas involuntários não funciona. Predispõe-se a vive-los novamente, se for preciso, mas sabe que não será como da vez anterior, pois tem agora uma técnica de controle: o cultivo de uma amizade com o seu medo.
Seria maravilhoso se existisse uma poção mágica para nos isentar de vivermos sintomas como os de transtornos de ansiedade. Mas a realidade é que poção mágica não existe. Pedi para alguém que trabalha com bisqui fazer três enfeites de mesa que entendi simbolizam o desejo humano pelo que é mágico. Duas chaleiras e um caldeirão, todos com o rótulo: “mandrágoras”. No Antigo Testamento as mandrágoras eram consideradas plantas da fertilidade, por isso Raquel a esposa amada de Jacó quando soube que Lia sua irmã (a outra esposa de Jacó da imposição da cultura da época) tinha uma poção de mandrágoras negociou com ela. Deu em troca da planta mágica o tempo que teria com Jacó. O que é mágico não funciona. Advinha quem ficou grávida?
Depois que os sintomas de pânico começaram a se espaçar comecei a pensar numa forma de utilizar o meu tempo livre que tinha agora. No processo de psicoterapia o psicólogo insistiu: “O que você fará com o tempo livre que terá na remissão dos sintomas?” Enquanto estava com medo de um novo ataque de pânico gastava tempo e energia envolto no medo do próprio medo. Agora sem o medo do próprio medo terei tempo livre para pensar outras coisas e planejar no presente a minha vida. É bom na crise refletir sobre o que se irá fazer quando não mais vivenciá-la. Isto ajuda a elaborar o futuro e a reagir no presente. E hoje tenho mais tempo para leitura e reflexão, estou aprendendo a viver sem a imposição do medo.

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