sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A NOIVA

Não era um dia como qualquer outro, apesar de aparentar mesmices: o brilho do sol, a beleza da paisagem, os pássaros cantando em sinal de demarcação de território. Uma excitabilidade agradável envolve a moça bonita que receosa se aproxima da imponente catedral. Cada passo dado representava para ela vida nova e abandono de uma vida conhecida.

Enquanto subia a pequena ladeira, avistava a escadaria do belíssimo monumento arquitetônico que escolhera para realizar sua tão sonhada cerimônia de casamento. De frente para uma bela praça, ladeada por duas ruas comerciais e de costas para uma importante avenida de acesso a ambulatórios e hospitais esperava seu público alvo: as noivas. O templo ladeado por dois grandes coqueiros, de copas bem formadas e aninhadas de pássaros, faziam a noiva se lembrar do sagrado texto: “o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde crie os seus filhotes, junto aos teus altares, ó Senhor dos exércitos, Rei meu e Deus meu”.

Ao pé da escadaria, os olhos da moça se elevam às alturas contemplando o azul celeste.

Agradecida pela bênção do casamento naquela igreja, balbucia algo ao criador.

A noiva era muito bonita. Quem por ela passava, observava sua beleza. Havia algo naquela jovem, esbelta e biófila, que atraia os olhares das pessoas. Ela era de fato muito linda, linda, linda mesmo. Difícil descrevê-la.

Ela, ao pé do templo, do espaço conhecido como sagrado, que escolhera para unir-se em matrimônio com alguém. Subiu o primeiro e o segundo lance de escada contando cada degrau, antes de subir o último lance com doze degraus parou para observar a praça com ipês amarelos, coqueiros, grama aparada e o colorido das flores. Por poucos momentos apreciou a brisa acarinhando a sua pele, imaginando as mãos do ser amado tocando seu corpo como o verso sagrado diz: “A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abrace”. Balbucia: que gostosura. Continua a subida e chega ao hall de entrada, passa pela porta da frente da nave do templo e caminha em direção ao altar. Conta os passos da entrada do templo ao altar. Imagina-se na noite em que dará cada passo da entrada ao altar e cumprimentará cada convidado, da direita e da esquerda, com um discreto sorriso enquanto todos eles estarão em pé ouvindo a marcha nupcial e olhando para ela o centro de toda atenção.

Os passos do reverendo interrompem sua antecipação do futuro. Um homem de uns trinta e dois anos de idade a cumprimenta e se apresenta como pastor daquela paróquia. Ele a convida para o escritório paroquial, uma sala bem iluminada, com um divã azul marinho, um sofá de dois lugares e uma poltrona. Ele sentou-se na poltrona e deixou-a escolher entre o divã e o sofá. Ela sentou-se no sofá, por achá-lo, mais confortável. Conversam sobre a liturgia da grande noite. A fala dela, nos pequenos questionamentos, penetrava delicada e suavemente os ouvidos daquele santo acostumado à escuta de suas ovelhas.

Ela preocupada com o sobrenatural, mas atenta para o que estava tão perto dela; revela-se romântica, sonhadora, confiava que um dia a graça do Senhor Soberano do Universo lhe traria alguém, não a cara metade, não a alma gêmea. Mas, alguém inteiro de carne e osso com quem ela poderia partilhar a sua vida.

Seu sonho estava sendo realizado. Ela sabia que a felicidade que almejava não viria numa caixa de presente com um belo laço encima. O que contava era seu esforço de viver cada dia agradecendo pelo privilégio da aventura de viver...

Paulo Alexandre

Nenhum comentário:

Postar um comentário

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _