sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SONHO

Sentado ali foi que vi a menina franzina passar. Mexi com ela, chamando-a pelo apelido que tivera. Ela não deu bola. Talvez o apelido estivesse em desuso ou ela aprendera a não dar mais bola para apelido. Ela não era grande nem pequena. Ela tinha treze anos de idade.
A mãe, dizia que ela era muito fantasiosa e sonhadora ao extremo. A opinião da mãe a deixava muito nervosa. Sentia-se imprestável.
Porém, não queria ser conhecida como menina boazinha e prestativa. Ouvira colegas falar de mãos de adulto que passeavam sobre as pernas das boazinhas.
Não se engane, coisas assim acontecem!
O pai de Gina era de muita conversa.
É assim em quase toda casa, um é falante outro é mais calado. Há sempre pessoas diferentes ao redor.
Ele aconselhava, mostrava as razões pelas quais ela deveria pensar antes de tomar uma decisão. Ele a incentivava a ter coragem de ir e continuar tentando mesmo que, às vezes, um erro pudesse ser cometido. Afinal, só erram os que ousam. Julgava-a capaz de prosseguir sozinha, pois ninguém podia viver a vida no lugar dela.
Como todo adolescente, ela tinha lances de revolta e de lamentação, pois não queria ser menos do que podia ser. Porém algo era certo: ela sabia o que queria e tinha pressa de viver.
Era uma menina que não depreciava o presente.
Vivia intensamente cada momento. Amava os rios, as pedras, as flores, os beija-flores, as aves, as nuvens. Enfim, apreciava as coisas grandes e pequenas.
Era agradecida e festiva. Tudo era motivo para ser feliz.
Até mesmo receber uma simples correspondência, escovar os dentes e possuir seus objetos de higiene pessoal.
Gina tinha um irmão bem mais velho. Ele não a incomodava.
Ela sentia que estava chegando a hora de zarpar, de bater as asas e voar para longe. Sentia medo. Ir em direção do novo é desconfortável, causa medo. Este, não era só dela. A mãe, o pai e o irmão mais velho também sentiam.
A família estava tentando elaborar um luto, pois o corpo de criança desaparecera. Os seios, os pêlos púbicos, a menarca e a alteração da voz eram indicações de mudanças. Para todos eles era difícil falar sobre esse assunto. Se os pais soubessem que para ela era melhor ouvi-los dizer que os muitos “nãos” dados foram por medo. Medo de perdê-la. Medo de que ela sofresse. Medo de serem esquecidos. Medo, simplesmente medo!
Mas a adolescente queria era lançar-se ao mar desta vida. Queria como os discípulos de Jesus enfrentar o mar da Galiléia. E se a tempestade aparecesse a Jesus se apegaria.
Ela sabia também que o tempo dela era um tempo de preparação. Não podia deixar os pais e percorrer seu caminho nesse mundo antes da hora, apesar do desejo grande que tinha de zarpar tal qual navio.
A espera e a preparação para o futuro antecipavam a ansiedade. Foi assim que numa noite ela sonhou.
Sonhou com um poço. O lugar era deserto. Distante algumas mulheres pastoreavam seus rebanhos. Todas caminhavam em direção a um poço. Gina, no sonho, seguiu o fluxo. Foi parar em frente a um poço. Aproximou-se das pessoas que estavam próximas do poço. Havia uma moça enchendo um balde para dar de beber às ovelhas do seu rebanho. Gina, que era cara de pau, foi logo xeretando, querendo saber nome, endereço, e-mail, msn, Orkut, twitter e tudo o mais.
Por ser enxerida, descobriu que a pastora do rebanho chamava-se Rebeca. Esta, contou-lhe que levava o rebanho todos os dias à tardinha para beber água do poço, pois acreditava que um homem viria de um país distante para descobri-la como noiva do filho de seu Senhor.
E assim foi. Um dia Rebeca estava à beira do poço, quando o servo de um homem importante chegou. Pediu água para si e para seu animal de carga. Ela o deu. Ele se apresentou e disse que vinha de um país distante. Quis conhecer a família dela. O sonho dela se realizou. Rebeca casou-se com Isaque.
Quem sonha, cultiva. Seja rosa, violeta ou borboletas. Sonhar faz bem.
Gina acordou do seu sono e do seu sonho. Surpresa ficou, quando se lembrou, não de um sonho, mas de uma amiga que no poço passou um dia de castigo.
Em breve conto essa história.

Paulo Alexandre

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