sexta-feira, 21 de agosto de 2009

BATER EM ANIMAL É CRUELDADE!

A punição física é uma realidade no relacionamento de pais e filhos. Pesquisa realizada no SOS Criança, em Curitiba (PR), mostrou que 51% das denúncias de pais por maus-tratos referem-se às agressões físicas, sendo que deste porcentual 38,5% correspondem à violência física e 12,5% à agressão sem lesão aparente[1]. Em Curitiba, 90% das crianças e adolescentes apanharam particularmente dos pais[2]. A palmada, por exemplo, está muito difundida no meio familiar e é considerada pelos pais e até mesmo por alguns profissionais da saúde isenta de riscos para o bom desenvolvimento infantil. Entretanto, pesquisas recentes apontam que a palmada pode chegar a se tornar abuso físico contra a criança[3].
A punição física contra a criança no ambiente doméstico é compreendida, de um lado, como prática normativa ou educativa; de outro lado, a punição física contra a criança no ambiente doméstico oscila entre o abuso físico e a violência física contra a criança. O abuso físico de pais contra filhos é entendido como o uso de força física com a intenção de ferir a criança, ou quando se usa a força física contra a criança sem intenção de feri-la, mas existindo o risco de causar dano, físico ou não. A violência física no ambiente doméstico contra a criança é um ato com a intenção de causar dano, sendo entendida como o uso de força física que causa ferimentos. O dano causado pela punição física pode ser interpretado além do dano físico, como o dano moral, psicológico, entre outros.
Vários estudiosos[4] da área consideram que a punição física insere-se em um só contexto de violência, que vai desde uma simples palmada até o espancamento. Esse tipo de pesquisa tem gerado movimentos, na atualidade, em direção à proibição da punição física no ambiente doméstico, na relação interpessoal de adulto e criança, particularmente no relacionamento de pais e filhos[5].
Existe também, o conceito de abuso-vitimização física, que engloba variadas formas de punição física contra a criança. De um lado, está o abuso que envolve os castigos extremos e inapropriados à idade e à compreensão da criança. Do outro lado, está a vitimização que envolve a punição física descontrolada e com instrumentos.
A pesquisa científica vem apontando as dificuldades de se estabelecer na relação intrafamiliar, isto é, na privacidade do lar, a fronteira entre punição física, abuso físico e violência física. Constatou-se que pais ou cuidadores que acreditavam na punição física como método educativo agrediam, com maior freqüência, seus filhos; bem como que pais denunciados ao SOS Criança de Curitiba por maus-tratos contra os filhos não tinham consciência de que estavam agindo com excesso, mas alegaram estar educando e corrigindo o comportamento da criança ou do adolescente.
Além disso, estudos apontam para os riscos do desenvolvimento emocional da criança, que pode associar a dor que sente na aplicação da punição física com o amor em relação aos seus pais. Tal emparelhamento de estímulos pode ensinar a criança a usar o mesmo método em outras situações de sua vida ou mesmo a suportar situações aversivas e disfuncionais que deveriam ser terminadas.
A punição física na relação do adulto com a criança historicamente foi sendo construída na medida em que uma concepção de infância corrupta requeria o combate dela por meio da vara, da palmatória, ou seja, da punição física.
É interessante mencionar que a punição física na relação de pais e filhos no contexto brasileiro esteve presente desde o Brasil Colônia. E há informações de que os jesuítas foram os que socializaram a punição física no contexto brasileiro.
O que é a punição física? Para Straus (1994, p.197), “punição corporal é o uso de força física com a intenção de fazer a criança experimentar dor, mas sem machucá-la, com a finalidade de correção ou controle do comportamento da criança”.
A punição física significa, portanto, infligir dor a uma criança de modo intencional para que ela pare com o comportamento indesejado ou inadequado sob o ponto de vista do adulto. Assim, a punição física, independente da forma em que apareça, é, no mínimo, uma agressão ao corpo da criança.
Acredito que a criança deve ser ensinada no caminho em que deve andar. A ela foi dada a capacidade de aprender através do diálogo. A comunicação verbal é uma característica humana.
Pense: Bater em animal é crueldade! Então, bater em criança não pode ser educação.




Paulo Alexandre




[1]WEBER; VIEZZER; BRANDERNBURG, 2002
[2] WEBER; BRANDENBURG, 2005
[3] AZEVEDO; GUERRA, 2005; WEBER; VIEZZER; BRANDERNBURG, 2002; WEBER; BRANDENBURG 2005; VITOLO et al., 2005
[4] STRAUS, 1994; AZEVEDO; GUERRA, 2001; WEBER, 2001; DAY et al., 2003; GUERRA, 2005
[5] ONU, 2006; PROJETO DE LEI, 2003

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