quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tempus Fugit

Saudade palavra triste quando se perde um grande amor, ouvi tanto essa canção na infância. Saudade vem com a distância. Sente-se saudade do tempo que passou. É seguro pensar no passado imutável. Um amigo costumava contar-me, com saudade, as suas andanças pelo país. No final da década de 80 e início da de 90 ele realizava mais uma de suas aventuras. Mudança de cidade, por causa do seu trabalho. Para ele isso era um prazer indescritível. Creio que sem essas aventuras ele seria um peso morto. Entretanto, as mudanças renovavam suas forças, elas eram o seu sentido (logos), o seu algo. Amava a expectativa do novo, do que encontraria: nova casa, novo ambiente de trabalho, nova etapa acadêmica, nova vizinhança. Enfim, muitas novidades. Apesar de nem tudo ser agradável em uma mudança, que pode gerar um pouco de insegurança e ansiedade, ele gostava do friozinho na barriga da possibilidade de que algum infortúnio ou perigo pudesse acontecer. Sua busca diária era por algo, pois já tinha alguém muito especial. Do fruto da sua relação conjugal de vários anos, quatro belos filhos era sua herança. Dois meninos e duas meninas, uma escadinha de dois em dois. Mas, provações não faltam. E elas são boas, pois nas horas das dificuldades se coloca à prova a filosofia de vida que se tem nos dias alegres (Elisabeth S. Lukas, 1993). E ninguém está livre de provações. O Senhor Jesus foi provado por 40 dias no deserto. Satanás ofereceu-lhe riqueza, poder e desafiou-O em relação a sua condição de Filho de Deus. Jesus permaneceu firme, sereno e tranqüilo, mantendo nos lábios a recitação da Palavra de Deus. Os ouvidos do tentador não suportaram por muito tempo as recitações das Escrituras, que jamais voltam vazias. O ser angelical do mal fugiu. É como diz o apóstolo Pedro: resisti ao tentador e ele fugirá. José, filho de Jacó, foi provado por várias vezes e de muitas maneiras. Numa de suas provações a mulher de seu patrão o assediou sexualmente. Ele resistiu. Ao perceber que os seus argumentos não eram fortes para impedir a esposa do patrão em seu intento, ele saiu correndo, abandonou aquela cena. Como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, ele foi parar na prisão. Mas lá encontrou um novo sentido e começou a prosperar. É como diz Frankl (1990), a pessoa humana está à procura de sentido em algo ou alguém, que não seja ela própria. Não há nada de errado em ser provado. O erro está em ceder à provação. Quem cede mancha a filosofia de dias alegres. Quem nos dias alegres proclama que vai viver na alegria e na tristeza com o seu amor, confirmará a força de suas palavras quando for acometido pelas dificuldades. Há quem tenha coragem de dizer nos dias alegres: Custe o que custar vou fazer a minha amada feliz e terei como efeito colateral a felicidade. Entretanto, nos dias felizes se fala muita coisa. Mas no dia em que a dificuldade bate à porta a filosofia de vida dos dias alegres é provada. O noivo, no altar embalado pela emoção do momento, diz belas palavras para a noiva, diante de todas as testemunhas. Palavras que serão provadas no cotidiano da vida a dois, enquanto se come um quilo de sal juntos. No caso do meu amigo, a vida havia preparado para ele uma inesperada provação. Diante dela, ele teve de se perguntar: “O que a vida espera de mim[1]” diante dessa prova?

Paulo Alexandre
[1] Viktor E. Frankl.

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