quinta-feira, 30 de julho de 2009

O PÃO QUE DESCE DO CÉU

Foi-me dado este tema para falar aos adultos da Escola Dominical da Igreja Presbiteriana no Jardim Itapuan. O público alvo é experiente. Há adultos de diversas idades; desde pessoas com quase noventa anos de idade, em pleno exercício de suas faculdades físicas e mentais, até os mais novos com seus trinta; que já ouviram grandes pregações de ilustres reverendos do passado e do presente. Mas, o desafio é maior ainda. Entre os participantes, há os que também ministram, e há os que já ministraram o tema. Entretanto, estou abrigado pela expectativa de que a comunidade é totalmente diferente das demais, pois ela é conhecida pelo amor, tal como a comunidade do discípulo amado.

Pensei em iniciar a aula com uma pergunta.

Ao ler o tema da lição que palavras vêm a sua mente?

Faria uma pausa e abriria para ouvir algumas opiniões. Isto me permitiria rapidamente realizar um diagnóstico da profundidade do conhecimento teológico do meu público em relação ao tema da lição.

Minha expectativa em relação à escuta dos comentários em relação à primeira pergunta.

Esperaria escutar algo como: “O pão que desce do céu” é, em primeira instância, suprimento de necessidades. Eu tenderia a usar a maiêutica[1] perguntando: como assim? Esperaria uma reflexão que se alicerçasse no binômio “necessidade e desejo”. Talvez a pessoa de posse da oração dominical (Mateus 6.9-15) argumentasse que Deus é quem supre a necessidade humana do pão diário, isto é, das necessidades básicas. Assim, o tema da lição estaria apontando para um Deus de amor que supre necessidades dos seus solicitantes. Afinal, o Senhor Jesus foi quem ensinou os discípulos a orarem, a partir do modelo dessa oração. O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje; é o que a oração ordena. Ao levantar-se, antes do café da manhã, ou, antes de sair de casa, a pessoa deveria ajoelhar-se e dizer aos céus: “o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje”. Feito isso, ela poderia sair, para ganhar o sustento da sua casa, buscar o necessário, como se diz “matar quantos mamutes fossem possíveis”. Seria uma atividade afeita ao sagrado. Trabalho é bênção divina. Deus disse, no paraíso, ao homem e à mulher: “guardem e cuidem do meu jardim”. As dificuldades do trabalho são decorrentes do pecado de nossos primeiros pais[2]. Alguns dias atrás minha esposa encontrou-se com alguém de nossa comunidade cristã numa loja de cosméticos. A pessoa estava tão bonita, tão arrumada, tão alegre, de auto-estima elevada que no primeiro contato minha esposa não a reconheceu. Ela estava trabalhando ali. O trabalho é bênção de Deus, ele faz as pessoas se arrumarem melhor, se aprimorarem, buscarem novos idiomas. O trabalho transforma pessoas sem sonho em grandes sonhadoras, ele insere a consciência do respeito ao outro a partir da ética profissional, ele até ajuda na instalação da consciência planetária.

Ficaria com vontade de questionar se a categoria denominada desejo, que se opõe à necessidade, passa também pela providência divina. Tenho certeza que alguém do meu público citaria Romanos 12.1. Passagem bíblica que ressalta “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Outro ainda poderia citar-me Provérbios 16.1-3, no qual, encontra-se, a afirmação de que “a pessoa pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor”.

Creio que outros ainda poderiam me lembrar do maná, alimento que caía do céu toda manhã como sinal da providência divina, para um povo que estava em marcha no deserto em direção a uma terra, não qualquer terra de escolha humana. Era a Terra Prometida, escolhida por Deus. Não se sabe com certeza como era o maná. O que dele se sabe é que devia ser recolhido de manhã. Cada família pegava somente o necessário para o dia, nem mais e nem menos. Os que arriscavam pegar um pouco a mais para guardar tinham a surpresa de alimento estragado. Maná era comida do céu, expressão do amor divino, do cuidado de um Deus soberano, Imperador absoluto, mas acessível.

Alguém ainda poderia lembrar-me de que o pão que desce do céu pode ser uma referência ao Evangelho do discípulo amado, no qual relata a encarnação do verbo. Deus se fez pessoa, habitou entre humanos, esvaziou-se de Sua Glória para viver entre os cansados e oprimidos. Esse discípulo de Jesus escreveu que o Senhor realizou o milagre da multiplicação dos pães e tirou como lição que Ele era o pão da vida. O verdadeiro maná celestial era o verbo encarnado, que tabernaculou entre as pessoas.
Paulo Alexandre
[1] Método Socrático.
[2] Gênesis 3.

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