quarta-feira, 19 de agosto de 2009

DOM SUPREMO

Tenho o privilégio de pertencer a uma comunidade Presbiteriana. Digo isto com humildade, mas de boca cheia. É uma comunidade que neste mês completou 150 anos de Brasil. Aqui chegou, em 12/08/1859, através da visão missionária da Missão dos EUA e de um jovem[1] de 26 anos de idade, recém formado em teologia na Universidade de Princeton. Não muito depois da chegada de Simonton, veio o cunhado dele; também, teólogo e a irmã. Assim, iniciou-se a família Presbiteriana no Brasil. O trabalho predominante foi no sudeste, região que até hoje é o ponto forte dessa comunidade.

Na realidade, tenho o privilégio de pertencer a uma família Presbiteriana. É mais do que uma comunidade religiosa. Ali se escolhe a liderança democraticamente, por eleição e por tempo determinado. É um lugar de convivência e de desenvolvimento humano. Trabalha-se a espiritualidade, a boa música, o canto, o teatro e valores (amizade, honestidade). Gosto da predominância do clima de bastidores de vencer/vencer; bem como, do trabalho da incerteza com a certeza revelada. Existe um esforço de manifestação da alegria, pois não deve ser triste um coração que ama o Supremo Imperador do Universo.

Como toda família, ela também tem problemas. Mas, todo problema tem solução. Ainda mais para uma família que tem nas mãos 66 cartas de amor deixadas por um pai amoroso. Ressalto que desde o início da família Presbiteriana no Brasil, 1859, os instrumentos nas mãos dos pioneiros eram: um livro (a Bíblia) e um hinário.

Na Bíblia, em uma de suas cartas, o pai dos pais diz o seguinte: “o amor jamais acaba”[2].

O que me chama a atenção é que o amor jamais acaba. É o amor que torna possível a convivência nas diferenças. É o amor que nos faz enxergar no outro um potencial adormecido que precisa ser concretizado historicamente. O amor é visionário. O amor está lá para ser descoberto. Esse amor que jamais acaba me faz pensar numa fonte inesgotável. Neste caso é um amor dom divino. Descoberto por mediação sobrenatural da terceira pessoa da Trindade. Contudo, precisa ser cultivado. Mas sempre estará lá, à disposição dos que se submeterem às regras divina.

Característica do amor divino é a capacidade de se sacrificar. Há tantos sacrifícios que se faz em relação à família. E existem sacrifícios curiosos. Exemplifico com dois casos. Um é o de um membro da família que se reveste da autotranscendência[3]. É comum as mães manifestarem essa capacidade de autotranscendência em relação aos cuidados de seus filhos. As mães chegam em casa cansadas, depois de um longo dia de trabalho. Além do cansaço, elas têm necessidades fisiológicas (fome, sede, ir ao toalete) que precisam ser supridas. Mas, encontram um filho chorando e necessitando de colo. Diante deste quadro, há mães que esquecem, temporariamente, as necessidades fisiológicas, para poder atender em primeiro lugar as necessidades da criança carente de afeto. Entretanto, meu exemplo é de um membro da família talvez não muito simpático (genro, nora, sogra, sogra, cunhado, cunhada), mas que supera as diferenças, para agradar o outro significativo na convivência com a família. Estar junto da família de origem do outro pode não dar tanto prazer, mas é um exercício desse amor que dura para sempre; pois exige a autotranscendência. Outro exemplo, que imaginei, é o de um adolescente corinthiano que mora com a mãe e o marido dela. O conflito entre o adolescente e marido da mãe está no nível das torcidas organizadas, pois um é corinthiano e o outro é palmeirense. A outra face do conflito está por conta do objeto comum de amor de ambos: a mãe para um e a mulher para o outro. Por conta disto, ambos se digladiam em ofensas verbais. Quem de fora olha, compreende que, por um lado, o adolescente requer a proteção da mãe. E de outro lado, o marido que não é o pai do filho dela acha que ela o superprotege e se esquece dele (o marido). Quero imaginar que num dia dos pais o adolescente persuadido pela mãe, escolhe comprar uma lembrança de dia dos pais, também para o sujeito que não é seu pai. Assim, o adolescente revestido da autotranscendência pensando no outro, oferece ao marido da mãe, que é pai também, um presentinho. Um presente que lhe custou muito, não financeiramente. Para comprá-lo precisou negar a si mesmo, macular a torcida organizada. Ele comprou de lembrança de dia dos pais um chaveiro palmeirense para o seu rival, tanto no time quanto na disputa do objeto do amor. O menino até teve vontade de comprar um chaveiro do timão. Não faltou tentação. O vendedor lhe ofereceu um bom desconto para a compra do chaveiro do timão. Mas ele não o fez. Pensou no outro significativo. Pensou na felicidade da mãe. Não queria magoá-la. Anulou-se, matou-se, abnegou-se... O padrasto ao receber o presente ficou felicíssimo e o abraçou de tanta alegria. A mãe não precisa nem mencionar. O adolescente demonstrou que o amor jamais acaba e que este amor é sacrificial, mesmo que o casal não tenha se dado conta disso.

Realmente, o amor jamais terá fim. O amor deve ser preferido em relação aos demais dons que são temporários e perecíveis. E quem conhece esse amor sabe que ele precisa ser exercitado e cultivado. O amor é paciente, benigno, compassivo, não procura os seus próprios interesses.

Viva o amor divino. Que ele o encontre! E quando isso acontecer, desfrute intensamente dele. Eu tenho o privilégio de desfrutá-lo na comunidade Presbiteriana. A ela meus parabéns pelos seus 150 anos.

Paulo Alexandre.

[1] Asbhel Green Simonton, fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil.
[2] I Coríntios 13.8
[3] Capacidade de atender as necessidades do próximo, antes mesmo das suas próprias.

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