quarta-feira, 12 de agosto de 2009

ALGO ME SEPARA DE TI!

Este santo oferecimento dos meus desejos ao Absoluto ocorreu numa tarde de 2004, quando estava em meu consultório numa pausa dos atendimentos aos meus pacientes. Não verbalizei, mas escrevi. Traduzi meus sentimentos e pensamentos em palavras. Claro que, posteriormente, reli e fiz pequenos ajustes. Eis o que escrevi.

Nos velhos tempos do Antigo Testamento[1] eu viveria no átrio[2] dos gentios. O meu distanciamento de Ti[3] se daria pela etnia. Por mais que eu tentasse, lutasse, protestasse nada ou quase nada mudaria, tudo permaneceria como o estabelecido. Eu estaria lá, no átrio dos gentios; lugar dos homens que nasceram fora dos limites geográficos considerados santos[4], homens que não passaram pelas barrigas das mulheres cujos maridos eram homens destinados aos lugares mais sagrados. No passado o que me separaria de Ti seria a minha etnia. Eu seria classificado como o filho do profeta Oséias “não-meu-povo”. Mas o Senhor destruiu o templo, acabou com o lugar sagrado de poucos homens. Eles tiveram que aprender a adorá-lo sem lugar, pois Tu estás em todo lugar. Eles tiveram de aprender a fidelidade fora do lugar sagrado, pois o mundo é o lugar em que devemos viver para Ti. Sem o templo, representação do que havia de mais sagrado, o povo hebreu aprendeu a manter comunhão contigo através da leitura e meditação da lei. Foi nessa época em que a Sinagoga teve sua importância não como lugar dos átrios, da separação; mas do ensino da lei, da alfabetização dos meninos. Meninos fiéis como Daniel, Sadraque, Mesaque, Abdenego. O apego do teu povo à lei escrita, em substituição ao templo, era para treiná-lo na interpretação correta da chegada do Messias. E o Teu povo aprendeu a ser zeloso.

Senhor, mesmo que eu tivesse nascido no Período Interbíblico, eu não seria teu povo. Pois só os judeus tinham essa marca.

Acredito que nem um Zelote eu poderia ser, isto é, um revolucionário que se empenhava pela libertação do povo judeu da subjugação dos romanos. Nem mesmo Saduceu, pessoa doutrinada para não crer na ressurreição dos mortos. Não estaria entre os Fariseus, que se consideravam santos e que desejavam sempre formar um povo cada vez mais santo. Nem seria um Escriba. Homem com 40 anos de dedicação à vida acadêmica, para copiar as sagradas letras. Copiava letra por letra e, ao se deparar com o Teu nome impronunciável, trocava de caneta para com ela, única e exclusivamente, escrever o nome de Iavé.

Eu pela insistência em Ti servir seria apenas um “temente”.

Na realidade, é mais provável que eu estivesse entre os romanos, adorando as divindades. Usaria um véu em minha cabeça, para em sinal de submissão à autoridade dos deuses, um sacrifício oferecer.

Senhor, eu Te agradeço. Teu Filho Jesus Cristo rasgou o véu que me separava de Ti, quebrou os átrios, tornou possível uma vida santa no mundo independente de etnia.

Senhor, eu me entristeço; pois nós ainda construímos muros de separações. Achamo-nos mais santos que os outros; construímos simbolicamente átrios para as mulheres e crianças, e, um lugar especial para os homens que consideramos mais santos. Muitas vezes, parecemos fariseus, saduceus, zelotes, escribas...

Sei que, no que depender de nós (humanos), estamos cada dia mais distantes de Ti. Tu és Aquele que derruba os muros da separação. Peço-te que derrubes os meus muros: minha incapacidade de enxergar os teus propósitos em favor do próximo, minha incompetência de abandonar os caminhos da separação...

Eu confesso: sem perceber eu posso estar cada dia mais longe de Ti. Por isso, cuida de mim!
Paulo Alexandre

[1] Alusão aos 39 livros da Bíblia.
[2] Alusão ao templo de Salomão que tinha lugares específicos para pessoas não judias, ou para as mulheres, etc.
[3] O Ti se refere a Deus, o Absoluto.
[4] No Antigo Testamento o povo escolhido está entre os Hebreus.

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