quarta-feira, 22 de julho de 2009

ENTREGANDO-ME AOS SINTOMAS(MEDO...)


Fiz tudo o que me disseram para que eu pudesse ficar livre do medo. Só não fiz o que deveria ter feito logo no início dos sintomas da ansiedade. Temia ir a um psicólogo, que bobagem penso hoje. Quando iniciei o tratamento, várias vezes, me dirigia ao consultório desse profissional, que me fora indicado, a um custo emocional enorme. Eu entrava na sala e verbalizava: “Você não tem idéia de quanto é difícil para eu estar aqui!”. No início das consultas tranqüilizei-me. O profissional entendia o que eu estava sentindo. Ele ia falando meus sintomas e dando-me confiança para enfrentar aquela situação. Muitas vezes ele repetiu: “Um ataque de pânico atinge seu pico em geral em dez minutos ou menos”. Eu ficava assustado quando ele tentava me induzir a crer que o medo do próprio medo era alimentado pelo meu esquema de fuga. Mas como eu poderia convidar sintomas tão aterrorizantes para participarem da minha vida. Eu os queria bem longe de mim. Fui aprendendo a lidar com os meus temores. Até que um dia no trânsito congestionado eu comecei a verbalizar: “Eu quero ter os sintomas de pânico para poder saber lidar melhor com eles”. Quanto mais eu queria, menos eles apareciam. Comecei o enfrentamento. Todos os dias eu convidava aquela pontinha de medo para fazer parte do meu dia. Mas ela, a pontinha de medo, não se interessa por uma boa amizade. O que ela queria era assustar-me e não conviver. A convivência, a amizade, revela a beleza escondida do outro. E medo que se dê ao respeito não quer saber de amizade, senão não é medo. Comecei a ficar mais confiante e convidava o medo para uma convivência. Quando eu ia viajar ficava pensando no trânsito, desejando passar mal num congestionamento intenso. É interessante que quanto mais eu evitei, mais os sintomas ficaram fortes. Quanto mais eu desejei, menos sintomas eu tive. Confesso que fiquei com muito medo que os meus pensamentos se materializassem. Afinal, acreditava na força do pensamento. E eu estava aprendendo que o medo tinha força enquanto eu esboçava certa vulnerabilidade. Quando eu o desejava ele se sentia ameaçado e me deixava. Estava aprendendo a assustar o medo que antes me apavorava. Que maluquice essa minha. Eu não queria ser desse jeito. Mas aprendia que me censurar o tempo todo não ajudava muito no enfrentamento do medo do próprio medo. Minha convivência com o medo foi tão importante para a superação do medo que até batizei-o e fiz um poema para ele. Ei-lo:

Medo

Por que você me persegue?
Por que você existe?
Por que você apareceu?
Você piora muito as coisas!

Por sua causa tenho horas de sofrimento;
Por sua causa me é impossível ser igual aos outros;
Por sua causa eu estou inquieto;
Por sua causa tenho uma sensação de falta de liberdade.

Medo, eu não o quero;
Medo, eu não o admito mais;
Medo, lutarei para derrota-lo;
Medo, vence-lo-ei;
Medo, você é meu amigo!
-x-x-
Texto de Paulo Pinto Alexandre

Um comentário:

  1. Obrigada por compartilhar seus pensamentos e opiniões em forma de texto.

    Mantenha o blog atualizado que eu vou tentar me manter concentrada nessas interessantes leituras... rs

    (Ah! Não sabia que o senhor era mestre em ciências da religião! Que legal!)

    Abraço!

    ResponderExcluir

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _