segunda-feira, 13 de julho de 2009

APONTAMENTOS DE LEITURA DO LIVRO FIRMIN.

Meu primeiro contato com Firmin se deu no site da RTP, no programa “No fio da palavra”. Não resisti aos bons comentários e às pequenas leituras da apresentadora do programa.

O segundo contato foi físico quando o livro chegou-me às mãos. Não perdi tempo e iniciei a leitura. Como sou neurótico em leitura, lia e escrevia em meu caderno de anotações o que me interessava. Sei que esse jeito de ler demora um pouco mais, mas me é produtivo.

Bem, terminei a leitura do livro. O que mais me chamou a atenção foi a capacidade de sobrevivência de Firmin. Ele, um rato, filho de uma ratazana alcoolista, de doze tetas, todas comprometidas com seus rebentos. Firmin era o 13º. Era fraco. Portanto, ele estava destinado à morte em pouco tempo. Você sabe que ser fraco, ou ser rotulado de fraco, é um grande problema. Maior ainda é quando se é pequeno. Uma criança que nasce com limitações tem hoje os recursos da tecnologia que ajudam em muito nas correções físicas e nas operacionalizações para um prolongamento da vida. Entretanto, um animal precisa de forças para lutar pela sua sobrevivência desde o primeiro momento em que sai da madre. Quem diz que milagres não acontecem deve ler Fimin. Um rato que sobrevive a uma mãe alcoolista, sendo o 13º filho, fisicamente fraco e que não tinha como disputar uma teta, pois eram apenas doze é um alvo do milagre. Ele não é somente um sobrevivente. É também um sujeito. Um construtor de sua história e influente na história dos outros. Firmin deixou suas marcas nas tubulações que encontrou prontas, pelas quais passaram seus ancestrais. Ele reconhece o valor histórico do passado e não desperdiça o seu presente com lamentações do que foi ou do que não possui. Contudo, apropria-se do passado e, a partir dele, constrói um pouco mais na “humanização” do rato, que aprende a ter o gosto pela leitura, bem como ensaia algumas formas de comunicação apesar de não ter conseguido desenvolver fluentemente o dom da linguagem falada, comunicou-se através de LIBRAS.

Firmin ajuda os leitores a fazerem resignificações do lado sombrio de suas histórias. Ele encontra beleza escondidas. No caso de Firmin o alcoolismo materno foi uma bênção para a sua sobrevivência. Você precisa ler para fazer essa descoberta. Apreender a enxergar belezas escondidas não é síndrome de poliana; mas construção filosófica que Viktor Emil Frankl domina em seus escritos, alicerçado em Buber, Hurssel, Heidegger.

Enfim, a imagem que guardo de Firmin é de algo que se confunde com alguém. Não é uma forma borrada, mas clara pela sua voraz persistência na leitura, nas escolhas de lugares onde os livros estavam e nas tentativas de relacionar-se com os humanos. Minha única recomendação para os leitores que amam cachorros é que relevem as afirmações de Firmin sobre os caninos. Apesar de amar um cachorro, não meu, mas dos outros eu relevei a contundente afirmação do ratinho. Talvez ele tenha sido movido por um sentimento maligno de inveja, pela proximidade entre as pessoas e o melhor amigo do homem.

É isso!
Paulo Pinto Alexandre

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