terça-feira, 23 de junho de 2009

NÃO POSSO CONTINUAR...

Paciente: Doutor, minha vida é uma farsa! Essa história de esforço para enxergar belezas escondidas não quero mais. Eu sou uma farsa! Sou um fracassado! Na sessão anterior eu estava começando a acreditar que poderia ser um caçador de belezas adormecidas nos outros e em mim. Chega! O melhor mesmo é que a morte me encontre. Eu quero morrer! Amaldiçoou o dia em que eu nasci. Eu devia ter sido um aborto, para não contemplar a luz do dia.

Psicólogo: Presta bem atenção no que eu vou lhe falar, para que você não me entenda mal e entre em um desespero maior ainda. O neurologista Viktor Emil Frankl fazia uma pergunta inoportuna para seus pacientes que estavam enfrentando adversidades grandes. Quando a pessoa alegava nada mais esperar da vida a pergunta serviria para dar um outro enfoque. Contudo, antes de fazer-lhe a pergunta preciso ter certeza de que você está pronto para ouvi-la. Não é uma pergunta qualquer! Ela é tremenda no impacto! Pode ser um remédio doce ou amargo.

Paciente: Se você não disse a pergunta é porque você também me vê como as outras pessoas! Todos acham que sou louco! Um descompensado ambulante! Já estou cheio! Gostaria de entregar os pontos. O que eu ainda posso esperar da vida? Não tive liberdade de escolher meus pais, carrego um nome que não gosto, não tenho dinheiro para trocar de nome, não consigo dizer não, as pessoas fazem o que querem de mim. Eu estou farto! Gostaria de gritar bem alto, no meio da 25 de março: Estou cansado dessa vida inútil.

Psicólogo: Creio que seu desabafo é oportuno. Vivemos numa sociedade de contradições, aprendemos desde a infância a esconder o que pensamos através da linguagem, o inferno na vida das pessoas é, como diz Rubem Alves, o olhar dos olhos. Entretanto, gostaria de lhe fazer uma pergunta. Não é aquela pergunta que eu havia proposto anteriormente, pois essa ainda precisa encontrar um terreno bem preparado. Você disse que não espera mais nada da vida! Mas o que a vida espera de você? Esta é uma pergunta que Viktor Frankl faz em seus textos. Ele diz que a vida espera algo das pessoas e que esse algo (trabalho, projeto, ...) na vida, no futuro, estaria a espera dela.

Paciente: Eu espero que a vida me dê saúde, prosperidade, longevidade, sabedoria, pessoas compreensivas ao meu lado, uma casa nova, prazeres; enfim, tudo de bom!

Psicólogo: Isso eu já entendi. O que você espera da vida eu já compreendi. Mas eu quero saber o que a vida espera de você nesse momento, incluindo os dissabores pelos quais você está passando. Entendeu a minha questão. Não quero saber o que você espera da vida, mas o que a vida espera de você. Infelizmente nosso tempo está no limite de novo. Seria bom você pensar sobre esse assunto durante a semana.

Paciente: Eu fiquei devendo a tarefa da sessão passada e você já está me confiando outra tarefa. Penso que você enxerga em mim potencialidades adormecidas, pois se exige de quem pode oferecer.

Psicólogo: Até breve!

Paulo Pinto Alexandre
crp 06/44437-8

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