quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NÃO É PROVOCAÇÃO!

Thiago Escudeiro enviou-me um e-mail indicando matéria que saiu na Folha de S. Paulo com o título: Surras diminuem o Q.I. de crianças. No estudo Straus, sociólogo da Universidade de New Hampshire, especialista na questão da violência contra a criança afirma que pediatras e psicólogos precisam dizer aos pais para que não batam, sob qualquer circunstância. É interessante também na matéria que a tecnologia tem sido importante aliado para o combate da violência doméstica contra a criança. Leia no artigo a respeito do uso de tomografias do cérebro de crianças submetidas a surras, comparadas com outras crianças. Quanto mais nova é a criança maior é o risco de dano.

Você pode achar esse assunto apenas uma provocação. Mas pense. O mundo que vivemos é de uma complexidade fenomenal. E as crianças precisam estar preparadas para a compreensão, a manipulação desse mundo em seu desenvolvimento integral. Como disse acima, a tecnologia cresce. Contudo a miséria não diminui. São os dilemas de nossa sociedade. E, são grandes. Da mesma maneira, o aumento da cultura não tem significado a diminuição da violência. Sabe o que vejo?

Vejo diferença nas percepções. Ao olhar para uma mesa, alguém a vê; outra pessoa pode dizer que vê uma madeira em forma de mesa.

Vejo o homem se apoderando da criação e sujeitando-a como homo faber, isto é, homem que fabrica. Cria, embeleza, para o conforto seu, mas também do outro e do nós (da sociedade). Fábrica não é só beleza. Mas, também sofrimento. Lá na fábrica, há pessoas rodeadas de ferramentas. As máquinas na fábrica ocupam o centro das atenções, as pessoas são periféricas; giram e sobrevivem em torno da máquina. Esta, dura. As pessoas envelhecem. As pessoas passam, as máquinas ficam. As máquinas têm braços (alavancas) e dentes afiados (facas de corte), parecem ser humanos, mas não são.

Vejo mães mandando seus filhos não para a escola, mas para a fábrica a fim de aprenderem a lidar com as máquinas. As escolas já não existem. Foram substituídas pelas fábricas. O mundo das coisas passou. O que vale agora é a não-coisa: a informação, a memória do computador e os serviços.

Vejo o homem adoecendo. Não manipula mais o ambiente, mas o controle remoto e as informações. É sedentário, triste. A mais valia, não é mais a mão de obra dele, mas dela, da máquina.

Assim, as crianças precisam crescer num ambiente o mais saudável possível, para descobrirem no futuro, o que fazer com o lixo eletrônico e, se preciso for, salvar a humanidade em caso de uma explosão no espaço virtual. Elas são o hoje na manipulação das não-coisas. Que elas consigam como efeito colateral mais felicidade, do que nós.

É isso!
Paulo Alexandre
-x-x-x-

Inspiração: O mundo codificado, Vilém Flusser. Organização Rafael Cardoso, São Paulo, Editora: Cosac Naify, 2007. E em http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u629126.shtml, acessado 29/09/2009.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

POR QUE VOCÊ BEBE?


Um beberrão pode ser a alegria dos amigos, mas é a tristeza dos pais e familiares.

Já pensou em fazer sociedade com um beberrão? É risco! Provérbios 23.21, diz: “Porque o beberrão e o comilão caem em pobreza”.

Alguém que conheço contou certa vez uma história de um beberrão. Era um beberrão cristão. Recitava a certeza de ir morar no céu, mas não conseguia abandonar os botequins. Era um beberrão evangelista. Quem estivesse com ele no boteco era convidado a ir à igreja e, segundo ouvi, alguns amigos de botequim conheceram uma nova vida na comunidade cristã dele e deixaram a roda do bar. Mas ele, não conseguia. Acho que ele morreu assim, tentando fechar os botequins: bebendo e convidando os amigos para a igreja.

O apóstolo Paulo é rigoroso com os beberrões. Ele diz: não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for beberrão e com esse tal, nem ainda comais (1 Co 5.11).

Quantas pessoas chegam a óbito no Brasil por causa do consumo do álcool? O que fazer para resolver o problema?

Eu não sei! Diante da complexidade do assunto, não quero arriscar respostas simplistas.

Vou usar um truque útil para o enfrentamento de um assunto trágico e polêmico: o humor.

Viktor Frankl diz que o humor é uma arma da alma na luta da sua preservação, pois cria distância e permite que a pessoa se coloque acima da situação, mesmo que por alguns instantes. O mesmo autor afirma que o humor negro manifesta que a pessoa não tem mais nada a perder a não ser uma vida ridiculamente nua. Assim, vamos à entrevista com um beberrão.

Entrevistando um bêbado.
Entrevistador: O que o senhor faz?
Beberrão: Eu bebo todas.
Entrevistador: Por que o senhor bebe todas?
Beberrão: Para esquecer.
Entrevistador: Esquecer o que?
Beberrão: Esquecer que eu sinto vergonha.
Entrevistador: Vergonha de que?
Beberrão: Vergonha de beber!
Podemos, dessa suposta entrevista, pontuar três coisas:
1) O beberrão envergonha-se e tenta suprimir não a causa de sua vergonha, mas a vergonha.
2) O que importa para o beberrão é como a realidade se reproduz em suas sensações e não como a realidade é em si mesma.
3) Quem bebe é como um homem que desliga a sirene de alarme da casa em chamas onde está dormindo, porque ela perturba o seu sono.
É isso!
Paulo Alexandre
-x-x-x-
Inspirado em: Antoine de Sit-Exupéry, apud Elisabeth Lukas, Vicktor Frankl.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

QUANTO MAIS SE MEXE, PIOR FICA!

Existem coisas que quanto mais se mexe pior ficam. Exemplifico: Quando não se pode errar. Você está com a última folha de cheque num cartório para pagamento de uma escritura, não pode errar na hora do preenchimento. Começa a preencher o valor dizendo internamente para si próprio não posso errar. De repente, você nota que colocou centavos no lugar de reais. Pronto, o que se temia aconteceu. É como diz Viktor Frankl, o medo se presta para produzir exatamente aquilo que se teme.

As pessoas com tendência compulsiva ao perfeccionismo sofrem, pois quanto mais se esforçam para não cometerem erros, mais cometem.

A mesma lógica vale também para os relacionamentos interpessoais: quanto mais criticamos ou reclamamos do comportamento de alguém, tanto mais negativamente a pessoa se comporta.

Assim, os que querem ser perfeitos combatendo as próprias fraquezas de maneira compulsiva, cada vez mais se tornarão imperfeitos. Quem combate com ira a falha alheia desperta cada vez mais inimizade.

Os que têm vontade exagerada de sempre fugir das dificuldades, arranjam cada vez mais dificuldades; os que lutam, exageradamente, contra todas as dificuldades, apenas aumentam-nas.
O que fazer então?

A receita: “Temos que aprender a aceitar certas coisas, a suportá-las e tolerá-las (em nós mesmos e nos outros), a simplesmente agüentá-las, só assim elas deixarão de ser importantes.” [Elisabeth Lukas]

É isso!
Paulo Alexandre
-x-x-x-
Inspirado em: Viktor Frankl e Elisabeth Lukas.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CÍRCULO VICIOSO

Vou começar como o livro de Macabeus, só que as avessas: pedirei desculpas pelo meu escrito logo no começo e não no final. Não me tenha por insano, não se sinta ofendido com minhas palavras.

Quem não pressiona o cônjuge para mudança ou nunca o fez, que atire a primeira pedra.

Nossa criatividade nos manda pressionar o outro para que consigamos o que nos convém. Geralmente queremos através de pressões (censuras, acusações) a mudança dos outros, particularmente aqueles que estão tão perto de nós. Marido e mulher é um bom exemplo.

Estou consciente de que por aí se afirma que em briga de marido e mulher não se mete a colher. Mas até quando vamos tolerar a violência na casa dos outros? Desculpem-me, mas eu vou meter a colher aqui.

Um cônjuge insatisfeito com a parceira fica pensando: ela devia fazer isto ou aquilo. Por conta dessa expectativa, segue-se um sofrimento com o comportamento da parceira. Depois, vêm acusações e pressão como tentativas desesperada de modificar a parceira. Mas, não pára por aí. Segue que pressão provoca contrapressão e resistência: a parceira não quer mudar. Sendo assim, aparece (sobre o cônjuge que tenta influenciar a mudança da parceira) o desânimo e o sofrimento com o próprio fracasso de tentar mudar o outro. O cônjuge culpa a parceira e, finalmente, desemboca na insatisfação com o comportamento dela. É um círculo vicioso, não gera mudança.

O cônjuge que tenta mudar a parceira precisa saber que: é necessário aceitar certas coisas na relação conjugal, não significa aceitar tudo. Além disso, precisa saber que nenhuma briga é capaz de modificar uma pessoa se ela mesma não quiser mudança.

Caso não ocorra mudança, cabe ao cônjuge decidir se ficará à distância ou se permanecerá ao lado da parceira. E, neste caso, se a tratará com amabilidade ou com hostilidade.

Cuidado. Odiar e não perdoar pertence às atitudes mais trágicas, o que não leva à paz. Mesmo que haja razões plausíveis para um sentimento de ódio; no entanto, tem que chegar o dia em que um sentimento de ódio seja superado por um ato de perdão, do contrário provocará efeitos patológicos no que odeia. Afinal, atitudes são expressões do espírito e, estas, transcendem o sentimento de ódio, raiva, dor.

“A pessoa que possui grandeza interior não se mostra mesquinha.” (Elisabeth Lukas)
É isso!
Paulo Alexandre
-x-x-x-
Inspirado em Elisabeth Lukas.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A TEORIA DO “NÃO POSSO”

Hoje você já falou o seu “não posso”? Para quem você falou?


Deixa-me adivinhar. Foi para alguém da sua família! Como se diz: É na família que somos o que somos. Assim, fala-se muita porcaria no ambiente doméstico, o que pode magoar as pessoas que mais amamos.

Já percebeu quantas vezes durante o dia falamos essa frase simples, que exige apenas um mover de lábios. Assim, falamos. Não consigo elogiar as pessoas, sou tímido. Não posso mostrar alegria pela manhã, sou rabugento. Não posso fazer compras com minha esposa, porque me irrita. Não posso ficar sem cerveja na sexta-feira. Não consigo controlar a raiva. Não consigo fazer carinho nas pessoas que amo, minha mãe não me ensinou.

Muitas possibilidades deixam de se concretizar por causa da teoria do “não posso”.

Alguém pode argumentar que pronunciar o “não posso” é apenas um jeito de falar, sem grandes implicações. Mas, via de regra, isso não é a realidade. O que falamos é o que pensamos; o que pensamos é o que falamos e assim agimos. Jesus disse: “a boca fala do que o coração está cheio”.

Dizer “não posso” não requer sequer uma reflexão. Falamos essa frase de maneira rápida e cômoda. Cada vez que a pronunciamos, morre uma possibilidade.

O ser humano é capaz de superar as situações mais difíceis, mas precisa fazer um esforço, o que começa no coração.

Entenda-me, não estou dizendo que a verbalização da frase eu posso fará com que você concretize tudo que quiser sem esforço. Estou dizendo que o “não posso” impede tentativas. Alguém que está em busca de uma vaga no mercado de trabalho precisa acreditar que pode conseguir seu lugar, apesar de toda crise. E isso o fará sonhar e se dedicar horas na semana na busca de vagas, na escrita criteriosa de uma carta de apresentação, na preparação do currículo e envio de quantos currículos forem necessários para alcançar uma vaga. Quem acha que não consegue terá, ao contrário, uma atitude cômoda. Não construirá para a conquista de uma vaga.

A teoria do “não posso” é a negação da capacidade da pessoa, candidatando-a ao desamparo na medida em que as portas que estão abertas vão se fechando, por causa do constante “não consigo”.

Quero dizer-lhe algo mais: Quem nunca se expõe às circunstâncias desagradáveis e as supera, aos poucos vai se tornando incapaz de outros enfrentamentos e acaba refém de suas próprias situações desagradáveis.

É isso!
Paulo Alexandre
-x-x-x-

Inspirado em Elisabeth Lukas, Viktor E. Frankl e na Bíblia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ATITUDES PROPENSAS A CRISE

Atitudes, que palavra bonita. Li no livro do José Affonso “A primeira lei” sobre as atitudes interpessoais produtivas e improdutivas, vale conferir. É produtivo ouvir com o coração. É atitude interpessoal produtiva criar um clima de vencer/vencer. Não é um livro simplesmente para os profissionais de recursos humanos, pois pode-se usá-la para o melhoramento das relações interpessoais na família.

Mas quero falar das atitudes consideradas pouco saudáveis, que acabam levando as pessoas ao adoecimento. São atitudes que, de acordo com Viktor Frankl, estão em duas categorias: “má passividade” e “má atividade”. Nesta, a pessoa luta contra as compulsões e com a vontade forçada de prazer. Naquela a pessoa evita todo tipo de incômodo, angústias, ameaças de fracasso.

A pessoa humana está sempre em luta. A saída e entrada de casa é uma grande luta por causa do estresse, do risco de ser abordado por alguém. Luta-se internamente no semáforo fechado, sob o risco de ocorrência de algo trágico. Luta-se para evitar alguma coisa ou contra alguma coisa. A pessoa gira em torno de si mesma e alimenta uma vontade de conseguir alguma coisa. Lembrei-me do livro do psiquiatra John White: A luta.

O problema não está na luta, mas na luta exagerada.

É como diz a Elisabeth Lukas, por trás de toda vontade exagerada de evitar algo encontra-se o medo do incômodo.

Escreva num papel e coloque na porta de sua geladeira: evitar incômodo é correto, mas quando é exagerado transforma-se em ansiedade antecipatória.

Uma atitude está começando a ficar crítica quando o medo de algo a faz repentinamente ficar com falta de ar. Quantas pessoas deixaram de ir a supermercados por medo de passarem mal no meio da multidão, mas antes elas apenas achavam desagradável entrar num supermercado superlotado. É normal evitar supermercados lotados, é normal preferir dias de menor movimento. Entretanto, quando for necessário providenciar algo num supermercado e se deixa de tomar as providências por medo de que algo ruim aconteça, então a atitude está começando a se tornar crítica.

Com o tempo passa a evitar ônibus, elevador, restaurante, cinema...

É isso!
Paulo Alexandre

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um sacrifício por amor não fere, ele cura.

Estou relendo Elisabeth Lukas. Gosto das idéias da logoterapia, conhecida como a terceira escola de psicoterapia de Viena. Seu fundador foi o doutor em medicina e psiquiatra, professor de neurologia, austríaco Viktor E. Frankl (1905-1997). É uma ciência que valoriza na pessoa as dimensões: bio-psico-socio-espiritual.

Bem, a autora menciona um exemplo de sua clínica de psicoterapia. Uma mulher que havia extraído o seio por causa de um câncer. A paciente tinha horror à festa de Natal. Entretanto, desde que casara, todos os anos convidava seus pais para a tradicional reunião natalina. Era um grande sacrifício na cozinha: fazendo bolos, biscoitos e assados. Além da exaustão na arrumação interminável da casa.

Para Elisabeth Lukas, um sacrifício que leva ao esgotamento é sem sentido, isto é não tem um bom motivo. O motivo da paciente em convidar os pais todos os anos era o medo de magoá-los ou criar um clima de desarmonia na família caso fizesse outro plano. Evidentemente, os pais gostavam de passar os dias de festa com sua filha. Lukas, diz que seria um erro como psicóloga dizer a sua paciente que ela havia sido “burra” ou que se deixara explorar. Espontaneamente disse à paciente que ela havia proporcionado aos pais muitos natais agradáveis. Contudo, explicou-lhe que os seus motivos não haviam sido os melhores, pois faltava harmonia consiga mesma: interiormente ela dizia “não” e exteriormente dizia “sim”. Essa incongruência, diz a autora, favorece o adoecimento. A paciente encorajada, e consciente de que o que fizesse tinha que ser feito por decisão própria, conseguiu dizer abertamente para o pai(*) que no natal seguinte preferia viajar com a própria família a celebrar a festa com ele em casa. De acordo com o relato da paciente aquele natal fora o mais tranqüilo de que tinha lembrança. Não obstante houvesse também decidido, conscientemente, trazer o pai para passar em sua casa outros natais para não ficar triste e sozinho em casa. Assim, ela fizera um sacrifício que tinha sentido, por amor a uma pessoa próxima e pela primeira vez sentiu-se bem com isto.

É isso! Um sacrifício por amor não fere, mas, cura.
Paulo Alexandre
Inspirei-me em “Prevenção Psicológica”, Elisabeth Lukas, Editora Sinodal/Vozes, 1992.

(*) A mãe havia falecido e o pai estava morando sozinho. Com o pai ela se dava melhor.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

NEURÓTICO OU PSICOPATA?

Desculpe-me pela pergunta: Você é neurótico ou psicopata?
Sei que você conhece tanto um quanto o outro. O melhor na questão de atitudes interpessoais produtivas é não citar nomes, para não se evidenciar um julgamento. Às vezes até bate uma dúvida de quem é quem. Pensando nisso, resolvi ajudar no esclarecimento. Cito a doutora Elisabeth Lukas, Logoterapeuta do Instituto de Logoterapia da Alemanha.

O neurótico
tem medo demais
foge das sensações de desprazer
dá importância excessiva a bagatelas, leva-as muito a sério
não quer arriscar nada
busca compulsivamente a perfeição
obedece cegamente a suas emoções
tem bom senso, a que não obedece
sente-se responsável no momento errado
tem baixo conceito de si próprio
sofre desnecessariamente

O psicopata

tem medo de menos
procura sensações de prazer
 não leva a sério coisas importantes
arrisca demais
esforça-se de menos para ser perfeito
extravasa cegamente suas emoções
não tem bom senso
simplesmente não assume responsabilidades
tem baixo conceito das outras pessoas
faz os outros sofrerem desnecessariamente

A comparação acima manifesta as atitudes psíquicas diferentes em cada uma delas. Contudo, há entre ambas características comuns: pouca realização interior de sentido, desenvolimetno prejudicado da personalidade, emoções dominantes e egocentrismo exagerado.
É isso!
Paulo Alexandre
-x-x-x-
Inspirado em: Preenção psicológica de Elisabeth Lukas. Coleção Logoretapia. Editora Vozes/Sinodal, 1992.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

NUDEZ

Tive um pesadelo com a morte, espíritos e objetos de mortos.


No pesadelo, alguém está morto sendo velado na sala de uma casa ampla e bonita. A identidade do morto vai aparecendo progressivamente no sonho. É mulher-idosa, que fora uma atraente jovem cujo estilo de vida podia ter sido pouco recomendado, a não ser o fato de ser solteira.

Com medo não me aproximo da urna funerária para olhá-la. Mas, de longe vejo o rosto dela. As pessoas que chegam ao velório se aproximam do esquife, olham-na no rosto e com as mãos tocam as mãos gélidas e cruzadas do defunto. Tudo isso é assustador, para quem está numa casa desconhecida e velando um corpo de alguém que também não conhece. De longe contemplo.

De repente um objeto da morta está em minhas mãos, coisa de pesadelo. A impressão que tenho é a de que o objeto estava na urna da morta. O meu pavor aumenta. Não quero sequer olhar para o centro da sala onde está o centro das atenções do velório. Agora estava com algo dela em minhas mãos e não sabia decifrar que tipo de objeto era aquele. Sentia-me sujo com aquele objeto na mão, jogo-o fora; pois não queria ir à urna para devolvê-lo. Afasto-me mais ainda da urna e de longe fico observando o comportamento das pessoas que se chegam para a despedida da morta que não vejo de onde estou.

Isolado na sala do casarão, atordoado e com muito medo, enxergo o que ninguém enxergava: uma jovem de blusa vermelha de decote arredondado e uma saia preta um tanto erguida acenando para mim. Ela quer que eu me aproxime dela, talvez toque seu ombro e as mãos frias. Mas, ela é a idosa morta ali no caixão há quase doze horas. Ouço-a dizer: “Há muito que desejo lhe dizer algo, mas não sei como”. Eu não quero ouvir nada, tento fugir daquele lugar. Estou preso. E a voz dela continua a me perseguir: “Tenho uma coisa maluca para lhe dizer. Não adianta você tentar fugir, pois quanto mais você se afasta de mim, mais me atraí”.

Aterrorizado ainda mais, me esquivo. Entro num enorme banheiro e diante do espelho contemplo meu rosto assustado e pálido. Sinto a presença da morta. Ela está atrás de mim. Vejo no espelho: o corpo seminu de uma jovem. É a nudez de um espírito demoníaco, incomoda-me. Saio rapidamente do banheiro. Corro pelo corredor da casa. Tenho a impressão de estar sendo seguido. O espírito maligno é sedutor e quer aflorar o meu desejo. Eu não quero. Fujo da aparência do mal. Quero acordar, mas não consigo. Tento pedir ajuda, mas não dá. Confuso, quero apenas afastamento daquilo que não é do bem...

Como tudo passa, o insomnium ou o visum (ilusão), o pesadelo passou.

É isso!

Paulo Alexandre

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MEU NOME É ERNESTO!

Sabe qual é o significado de “Ernesto”?

Hoje muitos pais verificam o que quer dizer um nome antes de impô-lo à criança, o que é, no meu entender, uma boa medida. Nome é para sempre. Pode-se até tentar mudá-lo, mas é burocrático e dependendo da idade da pessoa não compensa, pois ele já está inscrito no coração e não simplesmente no papel. Imagine se tivéssemos que olhar para o nosso RG todas as vezes que alguém gritasse por um nome. Entretanto, não é assim.

Ernesto possui um lindo significado. É para as pessoas que querem fazer a defesa de uma causa. Pessoas que querem viver para algo devem se inteirar do significado desse nome. É um nome impactante. Estimula a busca por sentido de vida em campo de concentração, como o nosso. Os marqueteiros podiam realizar uma campanha nacional para a promoção do logos (sentido de vida). Viktor E. Frankl diz que o sentido não pode ser dado, precisa ser descoberto. Mas educar as pessoas para o sentido é possível. Muitos jovens se embrenham pela rotina de um prazer imediato através de porções químicas. Contudo, se fossem educados para o sentido, romperiam com o totalitarismo dessas substâncias químicas e aprenderiam a se perguntar: O que a vida espera de mim? E não mais: O que eu espero da vida?

Nosso mundo é conduzido pelo princípio do prazer. Busca-se realizar o que dá prazer. Porém, nem tudo é prazer nesta vida. Quem tem uma causa para ser vivida não se pergunta se dá prazer, mas se vale a pena todo o sofrimento pela causa que encampa.

Se houvesse uma educação séria para o sentido, a indústria farmacêutica perderia expressivamente na venda de psicotrópicos.

Fui instigado pelo significado do nome Ernesto. Eu encontrei um sentido em viver na luta pelo bem estar da criança. Por isso, a tempo e fora de tempo escreverei meus textos em defesa delas, darei palestras gratuitas em escola pública ou privada para pais e professores, falarei nas comunidades religiosas a esse respeito. Quero ser um Ernesto em defesa da criança. O Senhor Jesus disse: “deixai vir a mim os pequeninos, pois dos tais é o reino de Deus”.

Enfim, serei um combatente dedicado, ou seja, um Ernesto. Você também pode ser um Ernesto. Qual é a sua causa? Frankl afirma que a essência humana é pela busca de algo ou de alguém.
É isso!
Paulo Alexandre.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

É BOM TER MEDO.

Passando por uma loja no centro da cidade (Santo André) percebi um olhar indiscreto. Parei e olhei, com a palavra na ponta da língua: Tá olhando o que? Gostou? Leva para casa!

Mas, era um boneco esquisito à porta de uma loja. Não sei de que era a loja. O olhar do boneco ficou em minha memória.

Fez-me lembrar a família monstro. Vocês se lembram dela? Eu gostava do vovô, por causa da capacidade dele em se transformar em morcego e se safar das situações sem grandes explicações. É tão bom, não ter que dar justificativas. Estamos envoltos por justificativas.

A esposa pergunta: Onde você estava? O que fez? Por que fez?

Os filhos pedem justificativas: Pai você me deixa ir a tal festa? Por que não posso ir? No seu tempo você não ia? Seu pai não o deixava?

Perdão, eu me dispersei.

O boneco horroroso à porta da loja me fez pensar no medo das crianças. Não sei de que elas têm medo hoje. Sei de criança que tem medo de encontrar um cadáver no portão de casa. É medo palpável. Sei de criança que tem medo de fantasma. Como não conheço tanto o medo delas, vou aventurar-me a tocar no medo dos adultos.

Adulto tem muitos medos.

Medo da solidão; o que o move para a busca de alguém.

Medo de errar na escolha da carreira profissional; o que o faz buscar orientação vocacional, conselhos e consultoria.

Medo de ser aprisionado pelo olhar dos outros; o que faz olhar também para os próprios interesses.

Medo de não se casar; o que faz buscar especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Medo de não ter filhos biológicos; o que faz preparar-se para a geração de um filho do coração.

Medo de não aproveitar as oportunidades, o que faz ser criterioso e estratégico.

Medo da aposentaria, o que faz arrumar trabalho e não mais emprego.

Enfim, o medo é bom. É a nossa força motriz. O medo faz as pessoas se movimentarem. O medo é ruim, quando ele paralisa trazendo grande sofrimento individual ou social.

É isso.

Paulo Alexandre.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

NOVA PATERNIDADE

O post “filhos do divórcio” instigou-me a esta postagem.

Quero dizer que ser pai não é fácil. Fomos impedidos na infância de brincar de casinha trocando fralda das bonecas. O que fazíamos era estragar a brincadeira das meninas, pegando as bonecas e dando um fim nelas. Como se tivéssemos medo de que algo de errado ocorresse conosco, pois menino que brinca com boneca acaba gostando. E assim, crescemos e não sabemos muito sobre cuidar de filhos: trocar fraldas, dar banho, arrumar a casa. Simplesmente não aprendemos na infância o que nos tornaria um pai mais sensível. E sem querer reclamar, mas reclamando, digo: foram as mulheres que nos impediram também de brincar de casinha e fazer os serviços domésticos.

Quero dizer que as coisas estão mudando. Mudança é um processo lento.

Antes, os pais eram pegos de surpresa no dia do nascimento dos filhos e ensaiavam uma única fala: Olá meu filho sou seu pai!

Hoje, os pais podem acompanhar a gravidez da companheira. Podem passar a mão na barriga da grávida, falar com a barriga, pôr uma música para que a barriga ouça.

Mas mesmo assim, o pai continua do lado de fora do ventre materno. A mãe é protagonista de uma gestação e não de uma concepção compartilhada (Arilha, 1998:73). Por mais que o pai acompanhe a gestação do filho ele não participa da relação simbiótica da díade (mãe-filho) durante a gestação, ele é o terceiro excluído. Isto é, ele é o cara que espera do lado de fora.

Ainda assim, somos necessários, pois pai é a arte de ser desnecessário. Aberastury (1991) afirma que a figura paterna adquire contorno em dois momentos do desenvolvimento do filho. O primeiro entre seis e doze meses de idade (organização genital precoce) e o segundo na entrada da adolescência (definição de papel na procriação). Assim, a figura paterna tem função estruturante do desenvolvimento do ego da criança. À medida que a criança se desenvolve a figura paterna ganha relevo na inserção social do filho/a e a conseqüente ruptura da díade (mãe-filho).

Reconheço que tornar-se pai é um processo. Sei que você já ouviu falar do mito do amor materno[1]. Mas, já ouviu falar de mito do amor paterno? Eu ainda não ouvi! Tenho ouvido que mãe é uma só! O que implica em diferentes paternidades e ausência da figura masculina. Tenho ouvido que os homens brigam apenas na separação pela guarda do filho, mas depois somem. Esquecem de pagar a pensão, esquecem que o que não deu certo foi a relação conjugal e não a relação entre pais e filhos. Alguém pode ser uma porcaria de marido, mas não precisa ser um péssimo pai. São papéis diferentes. Ouço também que a comemoração do dia dos pais em algumas escolas é problema.

Entretanto, acredito em mudanças. Os homens estão aprendendo a ser pai. O acelerado processo de mudanças socioculturais com o expressivo ingresso da mulher no mercado de trabalho tem dado outros significados à paternidade.
Ser pai não é mais ser único mantenedor e nem reprodutor, ele pode expressar sentimentos, cuidar dos filhos com contato físico e dividir as tarefas domésticas. Há lugares em que ele escolhe tirar a licença paternidade para ficar cuidando da criança. O homem está aprendendo a exercer a paternidade na sua multiplicidade de formas.

No meu livro “Pode a criança crescer sem apanhar?” Júnior vive com o pai, a mãe mora com o marido dela em outra casa. E ambos exercem o papel parental de forma adequada. Júnior de uma família binuclear nunca apanhou do pai, e auxilia o amigo que vive com a mãe e o pai juntos, mas que sofre punição física em casa. Faço questão de mostrar que uma família binuclear pode ser saudável.

É como escreveu em meu blog o Eduardo Chaves, irmão do Flávio e filho do reverendo Oscar Chaves: “Gostei de seu artigo – especialmente porque não defende a tese de que o divórcio de um casal que tem filhos é sempre ruim para os filhos. Não nego que possa ser (...) Mas seu artigo mostrou, num tom positivo, que divórcios podem ser, não só para enriquecimento para eles.”
Aproveito o ensejo para dizer que o Eduardo está combatendo as conseqüências do fenômeno “Alienação Parental”. Confira no HTTP//ec.spaces.live.com

É isso.
Paulo Alexandre.
[1] Badinter/1985.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

FILHOS DO DIVÓRIO

Diga-me: Você é filho do divórcio?

Hoje, creio, não é tão ofensivo fazer essa pergunta. Talvez seja ofensivo, para a maioria, perguntar se uma pessoa é filha adotiva. Mas, creio que em breve esse preconceito será superado, pois há uma beleza na relação de pais e filhos do coração que o vínculo sanguíneo não pode explicar.

Bem, meu assunto é sobre os filhos do divórcio.

Lendo uma pesquisa sobre a percepção do divórcio, entre jovens adultos (idade entre 20-25) que sofreram na infância a dor da separação dos pais, aprendi que existem três perfis de enfrentamento dessa dor: resilientes, sobreviventes e vulneráveis.

Os vulneráveis interpretam o divórcio dos pais como um evento doloroso que afetou negativamente a vida toda deles.

Os sobreviventes interpretam o divórcio parental como algo complexo de ajustamento importante.

Os resilientes interpretam o divórcio como uma passagem significativa em que os pais contribuíram para o desenvolvimento e formação de sua identidade.

Nem precisa dizer que a resiliência é uma importante capacidade de sofrer o impacto e retornar ao estado anterior o mais rápido possível.

Que o divórcio requer ajuste da vida pessoal, social e financeira a curto e longo prazo não se tem dúvida.

Que ele também é estressante e pode ser uma fonte de eliciamento de outros eventos estressores e que, por isso, requer adaptação das crianças e adolescentes não há dúvida.

Entretanto, há sempre a possibilidade de superação e adaptação positiva. Assim, as conceituações de divórcio só em termos negativos que implicam em danos e prejuízos precisam de reformulações.

Outrossim, tais concepções podem bloquear o reconhecimento de mecanismo de enfrentamento e as capacidades de acompanhamento na transição de uma família intacta para uma família binuclear saudável.

No meu livro: “Família uma gostosura” conto a história de uma família de sabiás que enfrenta o estresse do cotidiano; ela descompensa-se temporariamente diante de um estímulo aversivo, mas, ao enfrentá-lo, em busca de soluções, recompõe-se rapidamente, alcançando uma adaptação positiva. Ressalto a importância do conceito de resiliência[1] na família para um processo de crescimento e fortalecimento das relações interpessoais, no enfrentamento dos fatores de risco ou de situações de acentuado desconforto.

A pesquisa dos filhos do divórcio apontou, ainda, que a qualidade de vida deles caiu na década de 90 comparada com a década de 80. Uma das razões é que as separações atuais ocorrem em casamentos de baixo conflito, o que é menos aceito por crianças e mais estressantes para elas.

É isso!Paulo Alexandre
[1] A capacidade de recuperação diante da adversidade.
Divorce is a part of my life… Resilience, Survival, and Vulnerability: Young Adults' Perception of the Implications of Parental Divorce. Journal of Marital and Family Therapy. volume 35, Issue 1, Pages 30-46Published Online: 29 Dec 2008http://www3.interscience.wiley.com/cgi-bin/fulltext/121589512/HTMLSTART?CRETRY=1&SRETRY=0. Acessado em 01/09/2009.
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