quinta-feira, 30 de julho de 2009

O PÃO QUE DESCE DO CÉU

Foi-me dado este tema para falar aos adultos da Escola Dominical da Igreja Presbiteriana no Jardim Itapuan. O público alvo é experiente. Há adultos de diversas idades; desde pessoas com quase noventa anos de idade, em pleno exercício de suas faculdades físicas e mentais, até os mais novos com seus trinta; que já ouviram grandes pregações de ilustres reverendos do passado e do presente. Mas, o desafio é maior ainda. Entre os participantes, há os que também ministram, e há os que já ministraram o tema. Entretanto, estou abrigado pela expectativa de que a comunidade é totalmente diferente das demais, pois ela é conhecida pelo amor, tal como a comunidade do discípulo amado.

Pensei em iniciar a aula com uma pergunta.

Ao ler o tema da lição que palavras vêm a sua mente?

Faria uma pausa e abriria para ouvir algumas opiniões. Isto me permitiria rapidamente realizar um diagnóstico da profundidade do conhecimento teológico do meu público em relação ao tema da lição.

Minha expectativa em relação à escuta dos comentários em relação à primeira pergunta.

Esperaria escutar algo como: “O pão que desce do céu” é, em primeira instância, suprimento de necessidades. Eu tenderia a usar a maiêutica[1] perguntando: como assim? Esperaria uma reflexão que se alicerçasse no binômio “necessidade e desejo”. Talvez a pessoa de posse da oração dominical (Mateus 6.9-15) argumentasse que Deus é quem supre a necessidade humana do pão diário, isto é, das necessidades básicas. Assim, o tema da lição estaria apontando para um Deus de amor que supre necessidades dos seus solicitantes. Afinal, o Senhor Jesus foi quem ensinou os discípulos a orarem, a partir do modelo dessa oração. O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje; é o que a oração ordena. Ao levantar-se, antes do café da manhã, ou, antes de sair de casa, a pessoa deveria ajoelhar-se e dizer aos céus: “o pão nosso de cada dia, dá-nos hoje”. Feito isso, ela poderia sair, para ganhar o sustento da sua casa, buscar o necessário, como se diz “matar quantos mamutes fossem possíveis”. Seria uma atividade afeita ao sagrado. Trabalho é bênção divina. Deus disse, no paraíso, ao homem e à mulher: “guardem e cuidem do meu jardim”. As dificuldades do trabalho são decorrentes do pecado de nossos primeiros pais[2]. Alguns dias atrás minha esposa encontrou-se com alguém de nossa comunidade cristã numa loja de cosméticos. A pessoa estava tão bonita, tão arrumada, tão alegre, de auto-estima elevada que no primeiro contato minha esposa não a reconheceu. Ela estava trabalhando ali. O trabalho é bênção de Deus, ele faz as pessoas se arrumarem melhor, se aprimorarem, buscarem novos idiomas. O trabalho transforma pessoas sem sonho em grandes sonhadoras, ele insere a consciência do respeito ao outro a partir da ética profissional, ele até ajuda na instalação da consciência planetária.

Ficaria com vontade de questionar se a categoria denominada desejo, que se opõe à necessidade, passa também pela providência divina. Tenho certeza que alguém do meu público citaria Romanos 12.1. Passagem bíblica que ressalta “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Outro ainda poderia citar-me Provérbios 16.1-3, no qual, encontra-se, a afirmação de que “a pessoa pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor”.

Creio que outros ainda poderiam me lembrar do maná, alimento que caía do céu toda manhã como sinal da providência divina, para um povo que estava em marcha no deserto em direção a uma terra, não qualquer terra de escolha humana. Era a Terra Prometida, escolhida por Deus. Não se sabe com certeza como era o maná. O que dele se sabe é que devia ser recolhido de manhã. Cada família pegava somente o necessário para o dia, nem mais e nem menos. Os que arriscavam pegar um pouco a mais para guardar tinham a surpresa de alimento estragado. Maná era comida do céu, expressão do amor divino, do cuidado de um Deus soberano, Imperador absoluto, mas acessível.

Alguém ainda poderia lembrar-me de que o pão que desce do céu pode ser uma referência ao Evangelho do discípulo amado, no qual relata a encarnação do verbo. Deus se fez pessoa, habitou entre humanos, esvaziou-se de Sua Glória para viver entre os cansados e oprimidos. Esse discípulo de Jesus escreveu que o Senhor realizou o milagre da multiplicação dos pães e tirou como lição que Ele era o pão da vida. O verdadeiro maná celestial era o verbo encarnado, que tabernaculou entre as pessoas.
Paulo Alexandre
[1] Método Socrático.
[2] Gênesis 3.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Oi! Eu sou o Júnior.

Oi! Eu sou o Júnior. Tenho onze anos de idade. Meu nome significa combatente dedicado. Meu nome é igual ao do meu pai, que se chama Ernesto. Papai acredita que ao crescer vou descobrir o sentido do meu nome.


Eu moro com meu pai. Minha mãe mora em outra casa com o marido dela. Sou filho de pais separados. Eles se separaram quando eu ainda era bem pequeno. Sei que as diferenças os impediam de viver felizes como marido e mulher. De vez em quando eu visito mamãe. Ela, até hoje, diz que o casamento falhou, mas que eu fui o que deu certo da relação conjugal. Faz questão de revelar que a hora do meu parto foi tranqüila, não sentiu dor, nem ficou desiludida ao me ver pela primeira vez. Para os dois o meu nascimento foi só alegria. Eu acredito neles! São sinceros! Às vezes eu gostaria que eles voltassem a viver juntos. Mas sei que eles não seriam felizes.

Quando eu faço algo de errado meu pai conversa muito comigo. Eu não me lembro de ter apanhado dele alguma vez em toda minha vida. Mas com o Victor é diferente.

O Victor meu amigo, um amigão, mora com a mãe e o pai. Ele tem uma irmãzinha, que apronta mil e uma com ele. Um dia desses o Victor estava muito chateado na escola.

Resolvi lhe perguntar:
- Você está legal?
- Apanhei de chinelo em casa – reclamou.

A irmãzinha havia aprontado e ele, como sempre, levou a culpa. A mãe não o perdoou, pegou o que tinha perto de si e sentou nas costas dele, foram três ou quatros chineladas. A mãe bateu pouco. Entretanto, bateu muito. Ele sempre a obedecia, jamais reagiria. Ele não chorou. E, por isso, quase apanhou ainda mais. Não fosse o correr para o quarto e lá se trancar.

Na chateação, pensara até em fugir de casa. Mas não tem para onde ir. Eu tenho a casa de minha mãe, eis uma das vantagens dos filhos de pais separados.

Esse sofrimento do meu grande amigo me fez pensar na razão pela qual os pais batem em seus filhos.

Por isso, convidei o Victor para uma investigação sobre a mania de bater. Começaríamos ouvindo os nossos pais, depois duas professoras da escola e em seguida algumas crianças, colegas da nossa sala de aula. O Victor entrevistaria a mãe dele e eu meu pai. Iríamos juntos entrevistar as professoras escolhidas: a de português e a de ciências. E, finalmente, daríamos voz às crianças da nossa classe a respeito desse tema delicado e polêmico.
Combinamos também que para os adultos perguntaríamos: “por que os pais batem nos filhos quando acham que eles fizeram algo de errado?” Já para as crianças a pergunta seria: “Qual a sua opinião sobre apanhar dos pais?” Assim, fomos ao trabalho.

Que ansiedade! O meu coração batia acelerado. Os minutos pareciam horas. Não via o momento de ir para casa e contar essa novidade para o papai. Era quase impossível agüentar toda aquela efervescência dentro de mim.


Trecho do livro. Para compra: http://www.asabeca.com.br/ ou http://www.tempoparatudo.com.br/


segunda-feira, 27 de julho de 2009

ACRÓSTICO DA PALAVRA MULHERÃO!

Alguém me disse[1] ter recebido de uma amiga, que fazia muitos anos que não a via, o seguinte elogio: “você está um mulherão”. Ao ouvi-la, não tive dúvidas. Incentivei-a a fazer um acróstico com a palavra de seu elogio. Ela aceitou o desafio.

Assim, ela escreveu mulherão na vertical e para cada letra de seu elogio escreveu uma palavra, preferencialmente, a que viesse primeiro à mente. Veja como ficou o acróstico:

M - Macho
U - Unha
L - Lápis
H - Hoje
E - Errado
R - Rato
A - Amor
O - Omelete

Desta maneira, no acróstico as palavras que estão entre macho e omelete são: unha, lápis, hoje, errado, rato, amor.

Feita essa parte da tarefa, solicitei que escrevesse uma frase usando as oito palavras originadas da palavra mulherão.

O resultado foi o seguinte texto: “O macho tem unha e hoje olhou errado para elas. Quando viu o rato escreveu no caderno à caneta, porém achou melhor escrever à lápis para seu amor. Sentiu fome e foi comer o seu omelete”.

Minha análise[2] do texto resultante da palavra mulherão.

Vou analisar primeiro o acróstico.

Entre as palavras macho e omelete existem outras seis palavras. Há semelhanças entre macho e omelete na medida em que ambas podem apontar para a relação de gênero. Omelete se faz com ovos! Ovo me faz lembrar de óvulo, produção feminina. Assim, entre homem e mulher há inúmeras distâncias.

Unha cresce, por isso é necessário cortá-la para não ferir os outros. Há órgão que cresce! E precisa de controle, de domínio próprio. Se cortados, amputados, não funcionam mais. Mas existe pessoa que tem vontade de mandar cortar órgãos masculinos sem domínio próprio que se aproveitaram da situação de vulnerabilidade da infância ou da adolescência. Diga-se de passagem que a Lei é o caminho que se tem para impor limites sobre os donos desses órgãos. Por isso, a denúncia é importante em caso de abuso sexual. A unha é como o nariz do pinóquio, cresce! O nariz do pinóquio cresce quando a boca do menino de madeira pronuncia mentira. Esta, é uma coisa errada. Também é errado se envolver sexualmente com a própria filha, o próprio filho, ou neta/o, sobrinha/o. A Bíblia diz em Levítico 18.9-15 que não se deve envolver sexualmente com a irmã, seja ela filha do pai ou da mãe; não se deve envolver sexualmente com a neta; não se deve envolver sexualmente com a tia ou tio. Enfim, a Bíblia diz que esses tipos de comportamento são errados.

O lápis é um instrumento para a educação. Esta, é um processo em que se ganha e se perde. Quem aprende a escrita e a leitura ganha na capacidade de tradução[3], pois tem que traduzir pensamentos em palavras. No início da minha carreira acadêmica usava muito o lápis. O argumento da minha professora era o de que se eu errasse poderia apagar. Mas a caneta seria usada quando a minha capacidade de acerto estivesse mais acentuada. Voltando à frase. A autora da frase afirma que “o macho quando viu o rato escreveu no caderno à caneta”. O rato representa o que é nojento, impuro. Não me refiro à cobaia de laboratório, mas a ratazana. Esta, sai para buscar comida entre os dejetos, o lixo de casa, dos bares, restaurantes. Enfim, excetuando Firmin (leia os apontamentos sobre o livro) e as cobaias bonitinhas, os demais ratos são asquerosos. Mas na frase a autora diz que o macho escreveu à caneta no caderno, diante de um estímulo chamado rato. Quando se escreve à caneta fica mais difícil de se apagar. Entretanto, o mesmo macho, escreve à lápis para o seu amor. Escrever à lápis é frágil. Ninguém aceita um contrato assinado à lápis, mas à caneta. Lápis pode se apagar. A impressão é que a autora, consciente ou inconscientemente, afirma que macho de respeito gosta de coisas nojentas e impuras; mas em relação ao amor ele é falso, pois escreve à lápis. Diga-se de passagem que os machos são considerados nojentos pelo universo feminino. Conversando sobre os medos da autora da frase ela segredou-me que o rato é um deles. Escrever o medo à caneta é marcante. Medo quando se instala se torna forte, quanto mais se foge dele mais ele aparece. Só vai embora, definitivamente, quando se faz uma amizade com ele. E medo não quer relações de amizade. A autora também disse-me que o amor é para ela um enigma, uma desilusão. Talvez, por isso, ela tenha usado o macho para transferir-lhe suas decepções em relação ao amor.

Hoje é uma palavra muito interessante. Gosto muito dela. Hoje é o dia que se tem para realizar o amanhã. Quem deprecia o presente enfraquece o futuro. Essa idéia da depreciação do hoje aprendi com Viktor Emil Frankl. Ele diz que a pessoa que se agarra às coisas do passado deprecia o presente, bem como a pessoa que se preocupa excessivamente com o futuro. Deve-se viver o dia de hoje intensamente. O Senhor Jesus disse: “basta a cada dia o seu próprio mal”. A autora da frase está cheia de planos no presente e o vivencia intensamente.

Errado, outra palavra que apareceu entre o macho e o omelete. Errado e certo é hoje uma linguagem religiosa. Entre outros profissionais se fala em bom ou ruim. O certo e o errado no século XXI estão fora de moda. Desta forma, falar em errado dá um ar de absurdo! Mas há absurdos que se comete em nome do direito de educar. Como pais que acham que podem bater, espancar o filho ou pais que criam e acham que tem o direito de deflorar a filha. É errado!

Sobre o rato falei em relação ao lápis e à caneta, bem como teci algum comentário sobre o amor.

Para finalizar, a frase termina dizendo que o macho ao sentir fome foi comer o seu omelete. Os machos ainda são assim! Objetificando o outro. As mulheres ainda reclamam que os machos as procuram para sexo e não para carinho desvinculado de sexo. Macho quando está com fome quebra os ovos e faz omelete, pode até não ficar muito saboroso. Quem nunca riu de uma situação encenada nos filmes em que o macho procura o amor de sua vida e dois minutos depois tudo já está resolvido.

Bem, é isso.
[1] Esclareço que a pessoa deu-me autorização do uso de sua fala. Contudo, mantenho seu anonimato.
[2] Reconheço que há muitas formas de se analisar.
[3] José Saramago diz que a escrita é uma tradução.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

ENTREGANDO-ME AOS SINTOMAS(MEDO...)


Fiz tudo o que me disseram para que eu pudesse ficar livre do medo. Só não fiz o que deveria ter feito logo no início dos sintomas da ansiedade. Temia ir a um psicólogo, que bobagem penso hoje. Quando iniciei o tratamento, várias vezes, me dirigia ao consultório desse profissional, que me fora indicado, a um custo emocional enorme. Eu entrava na sala e verbalizava: “Você não tem idéia de quanto é difícil para eu estar aqui!”. No início das consultas tranqüilizei-me. O profissional entendia o que eu estava sentindo. Ele ia falando meus sintomas e dando-me confiança para enfrentar aquela situação. Muitas vezes ele repetiu: “Um ataque de pânico atinge seu pico em geral em dez minutos ou menos”. Eu ficava assustado quando ele tentava me induzir a crer que o medo do próprio medo era alimentado pelo meu esquema de fuga. Mas como eu poderia convidar sintomas tão aterrorizantes para participarem da minha vida. Eu os queria bem longe de mim. Fui aprendendo a lidar com os meus temores. Até que um dia no trânsito congestionado eu comecei a verbalizar: “Eu quero ter os sintomas de pânico para poder saber lidar melhor com eles”. Quanto mais eu queria, menos eles apareciam. Comecei o enfrentamento. Todos os dias eu convidava aquela pontinha de medo para fazer parte do meu dia. Mas ela, a pontinha de medo, não se interessa por uma boa amizade. O que ela queria era assustar-me e não conviver. A convivência, a amizade, revela a beleza escondida do outro. E medo que se dê ao respeito não quer saber de amizade, senão não é medo. Comecei a ficar mais confiante e convidava o medo para uma convivência. Quando eu ia viajar ficava pensando no trânsito, desejando passar mal num congestionamento intenso. É interessante que quanto mais eu evitei, mais os sintomas ficaram fortes. Quanto mais eu desejei, menos sintomas eu tive. Confesso que fiquei com muito medo que os meus pensamentos se materializassem. Afinal, acreditava na força do pensamento. E eu estava aprendendo que o medo tinha força enquanto eu esboçava certa vulnerabilidade. Quando eu o desejava ele se sentia ameaçado e me deixava. Estava aprendendo a assustar o medo que antes me apavorava. Que maluquice essa minha. Eu não queria ser desse jeito. Mas aprendia que me censurar o tempo todo não ajudava muito no enfrentamento do medo do próprio medo. Minha convivência com o medo foi tão importante para a superação do medo que até batizei-o e fiz um poema para ele. Ei-lo:

Medo

Por que você me persegue?
Por que você existe?
Por que você apareceu?
Você piora muito as coisas!

Por sua causa tenho horas de sofrimento;
Por sua causa me é impossível ser igual aos outros;
Por sua causa eu estou inquieto;
Por sua causa tenho uma sensação de falta de liberdade.

Medo, eu não o quero;
Medo, eu não o admito mais;
Medo, lutarei para derrota-lo;
Medo, vence-lo-ei;
Medo, você é meu amigo!
-x-x-
Texto de Paulo Pinto Alexandre

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Prefácio



Na atualidade, o conceito religião (religare) não quer dizer, necessariamente, religação com Deus, mas sim ter uma experiência com os mistérios sagrados, os ritos de contato com as divindades, as dimensões invisíveis, a consciência. Ainda no início do século XX, havia o anúncio da extinção do fenômeno religioso. Entretanto, religião e religiosidade não desapareceram e estariam sendo revividas na dimensão da espiritualidade.
Espiritualidade é um tema atual. Profissionais da saúde e pesquisadores vêm, cada vez mais, reconhecendo a importância da dimensão espiritual para a saúde. Contudo, é necessário coragem para lidar com uma área repleta de preconceitos tanto a favor quanto contra a espiritualidade. Sobretudo, quando se trata de uma espiritualidade centrada não na subjetividade individual, mas na objetividade da autoridade da Bíblia e de um relacionamento com o sagrado na manifestação histórica do Cristo.
Os autores, de posse da lógica protestante de que a expressão da verdade está nos tempos bíblicos, resgatam, do passado, as diretrizes da espiritualidade. Esse resgate histórico é bastante interessante em contraste com a pós-modernidade, a qual, de um lado, nega a ideia de certo e errado e, de outro lado, impõe às pessoas uma crise de sentido – na medida em que há avanços tecnológicos e retrocessos/estagnações nas relações humanas perpassadas, atualmente, por vários tipos de violência, sendo a violência doméstica a mais perversa de todas.
Mas há esperança. A proposta dos autores é a de uma espiritualidade enquanto relacionamento com Deus, mediado pela pessoa de Jesus Cristo, que gera uma quebra de homeostase. Portanto, mudança. E toda mudança, superficial ou profunda, exige uma busca por novo equilíbrio.
Para os autores, o coração humano necessita, para a sua humanização, da experiência do amor divino, revelado em 66 cartas e na manifestação histórica da cruz. Assim, a espiritualidade não está circunscrita a lugares tidos por sagrados, mas ao relacionamento com o Deus revelado nas Escrituras e manifesto historicamente pela Segunda Pessoa da Trindade.

Paulo Pinto Alexandre

segunda-feira, 13 de julho de 2009

APONTAMENTOS DE LEITURA DO LIVRO FIRMIN.

Meu primeiro contato com Firmin se deu no site da RTP, no programa “No fio da palavra”. Não resisti aos bons comentários e às pequenas leituras da apresentadora do programa.

O segundo contato foi físico quando o livro chegou-me às mãos. Não perdi tempo e iniciei a leitura. Como sou neurótico em leitura, lia e escrevia em meu caderno de anotações o que me interessava. Sei que esse jeito de ler demora um pouco mais, mas me é produtivo.

Bem, terminei a leitura do livro. O que mais me chamou a atenção foi a capacidade de sobrevivência de Firmin. Ele, um rato, filho de uma ratazana alcoolista, de doze tetas, todas comprometidas com seus rebentos. Firmin era o 13º. Era fraco. Portanto, ele estava destinado à morte em pouco tempo. Você sabe que ser fraco, ou ser rotulado de fraco, é um grande problema. Maior ainda é quando se é pequeno. Uma criança que nasce com limitações tem hoje os recursos da tecnologia que ajudam em muito nas correções físicas e nas operacionalizações para um prolongamento da vida. Entretanto, um animal precisa de forças para lutar pela sua sobrevivência desde o primeiro momento em que sai da madre. Quem diz que milagres não acontecem deve ler Fimin. Um rato que sobrevive a uma mãe alcoolista, sendo o 13º filho, fisicamente fraco e que não tinha como disputar uma teta, pois eram apenas doze é um alvo do milagre. Ele não é somente um sobrevivente. É também um sujeito. Um construtor de sua história e influente na história dos outros. Firmin deixou suas marcas nas tubulações que encontrou prontas, pelas quais passaram seus ancestrais. Ele reconhece o valor histórico do passado e não desperdiça o seu presente com lamentações do que foi ou do que não possui. Contudo, apropria-se do passado e, a partir dele, constrói um pouco mais na “humanização” do rato, que aprende a ter o gosto pela leitura, bem como ensaia algumas formas de comunicação apesar de não ter conseguido desenvolver fluentemente o dom da linguagem falada, comunicou-se através de LIBRAS.

Firmin ajuda os leitores a fazerem resignificações do lado sombrio de suas histórias. Ele encontra beleza escondidas. No caso de Firmin o alcoolismo materno foi uma bênção para a sua sobrevivência. Você precisa ler para fazer essa descoberta. Apreender a enxergar belezas escondidas não é síndrome de poliana; mas construção filosófica que Viktor Emil Frankl domina em seus escritos, alicerçado em Buber, Hurssel, Heidegger.

Enfim, a imagem que guardo de Firmin é de algo que se confunde com alguém. Não é uma forma borrada, mas clara pela sua voraz persistência na leitura, nas escolhas de lugares onde os livros estavam e nas tentativas de relacionar-se com os humanos. Minha única recomendação para os leitores que amam cachorros é que relevem as afirmações de Firmin sobre os caninos. Apesar de amar um cachorro, não meu, mas dos outros eu relevei a contundente afirmação do ratinho. Talvez ele tenha sido movido por um sentimento maligno de inveja, pela proximidade entre as pessoas e o melhor amigo do homem.

É isso!
Paulo Pinto Alexandre

terça-feira, 7 de julho de 2009

PRESENTEI SEU PAI

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

TUDO ERA SUPORTÁVEL. (Medo do próprio medo)

Quem passa pelo medo do próprio medo sente saudade do passado que antecedeu aos sintomas do medo.
Antes eu dirigia sem qualquer receio. Congestionamento não me assustava. Shopping era o meu prazer, gostava de multidão. Onde tinham pessoas eu me animava. Hoje tudo isso me assusta. Só de pensar minhas mãos gelam, o coração acelera, sinto falta de ar, sensação de sufocamento. Quantas e quantas vezes eu me perguntei: “O que está acontecendo comigo?”

Tudo começou aparentemente com um evento insignificante. Era uma viagem de feriado prolongado. Chegamos ao nosso destino e tudo estava maravilhoso. De repente, senti-me mal, parecia um enfarte. Fui ao hospital, fiz alguns exames, fui medicado e de lá para cá nunca mais fui o mesmo. Todas as vezes que penso, ouço ou falo de viagem passo mal. O pensamento recorrente é o de agonizar sem socorro possível. Consultei-me várias vezes com cardiologistas e nenhuma cardiopatia foi diagnosticada. Eu vivia pensando a mesma coisa. Quem me olhava não sabia o meu drama. No início era medo de viagem, de trânsito, de multidão, depois de enfrentamento de situações novas, nas quais eu temia perder o controle, dar um vexame, desmaiar. O medo foi crescendo e ficando insuportável. Com medo de ter os sintomas que temia comecei a evitar situações que poderiam evocar os sintomas. Virei um fujão, um ermitão, um prisioneiro de meus temores. Quanto mais fugia, maior o medo ficava. Não podia falar para as pessoas ao meu redor o que estava acontecendo comigo. Eu pensava que estava ficando louco. Tinha medo de enlouquecer. Eu não tinha medo de morrer. Tinha medo do sufocamento, da asfixia, de não ser socorrido a tempo, de agonizar. Eu não desejo para ninguém o que eu vivi.
Hoje quando tenho uma trégua dos temores, sinto-me feliz e com uma pontinha de medo de uma nova recaída. Que saudade do passado, antes dos sintomas tomarem conta de mim. Parafraseio o salmista: “Oh! quão bom e quão suave era o meu passado, eu vivia muito bem em reuniões!” Será que um dia ficarei livre desse tormento? Estou cansado de intenso temor, de pavor, de palpitações, sudorese, tremores, sensações de falta de ar, de asfixia, dor ou desconforto torácico, desconforto abdominal, sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio, medo de perder o controle, etc. Novamente recorro ao salmista: “Até quando, ó Deus, te esquecerás de mim? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando encherei de cuidados a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia?”.

sábado, 4 de julho de 2009

MEDO DO PRÓPRIO MEDO (Introdução)

Escrevo a partir da experiência de 15 anos de escuta de pessoas que vivenciaram transtornos de ansiedade. A minha intenção é colaborar para dirimir o sofrimento de quem passa nesse exato momento pelo transtorno de pânico e também incentivar a busca de ajuda profissional especializada para se aprender a lidar com os transtornos de ansiedade. Há ainda muito preconceito em relação aos profissionais da saúde mental, o que faz com que as pessoas busquem trilhas, as mais diversas, sem construir um caminho produtivo para lidarem com os transtornos de ansiedade. Em geral as pessoas que sofrem de transtornos mentais se conscientizam da necessidade da busca de profissionais da saúde mental, como o psicólogo ou o médico psiquiatra, quando já fizeram uma via crucis de meses ou anos de caminhada pelo serviço médico.
Este texto não é um manual, não esgota o assunto, é um start. Acredito que ajudará os que estão sob pressão de um pensamento recorrente e significativamente perturbador, que está comprometendo o funcionamento individual e social da pessoa.
Este texto é para os que têm medo de perder o controle emocional. É para as pessoas que diante de pequenos aborrecimentos apresentam sintomas como: dor de estomago, dor de cabeça, dores pelo corpo, ronco intestinal, etc. É para quem tem medo da morte de alguém muito próximo. É para quem já tentou ser forte ignorando os pensamentos, os sintomas, o medo. É para quem quer ter a coragem de dizer com o apóstolo dos gentios: “Se é preciso gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza.”

OH! QUÃO BOM E QUÃO SUAVE ERA O MEU PASSADO.

Nunca imaginei que desejaria reviver o meu passado, que me parecia tão penoso quando ele era presente. Por isso hoje estou tentando reclamar menos do momento em que vivo, procuro viver cada minuto da minha vida na sua intensidade sabendo que o mais importante é o que eu faço diante das exigências da vida. Estou aprendendo também a agradecer mais. A gratidão é uma virtude. A palavra recorrente no meu pensamento é “Quão bom e quão suave é...”. Comecei a anotar as reclamações que eu fazia no decorrer do dia. Fiquei surpreso ao descobrir que sou um reclamão! Não é isto o que eu quero para mim. Resolvi disciplinar-me. Quero ser um “biófilo”, uma pessoa que ama a aventura de viver. Estou tentando dar graças em tudo. Quero valorizar o presente, pois quando gasto boa parte do meu dia choramingando das coisas que não deram certo, estou preso ao passado e deprecio o dia de hoje. Depreciando o presente vamos nos deixando aprisionar pela melancolia ou pela sensação de que um infortúnio ocorrerá. Resolvi gritar: “Chega de correntes que me aprisionam ao passado”. O passado é seguro. Ninguém pode altera-lo. Gritei novamente: “Chega de contemplação de portas fechadas, emperradas e enferrujadas”. Buscarei contar o número de portas abertas. Há inúmeras portas abertas que eu até então não via. E não as via pelo hábito forte de enxergar portas fechadas. Gritei mais uma vez: “Chega de muros de separação”. Passei boa parte da minha vida construindo átrios, construindo muros de separação, lugares sagrados e profanos. Novamente afirmo: Estou aprendendo a viver o dia de hoje. O Senhor Jesus afirma: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal”. Paulo P. Alexandre
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